terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Informações úteis sobre o sono dos bebês

Uma das frases mais ouvidas pelas grávidas é: "aproveite para dormir agora por que quando nascer, você vai ver!"
Como se grávidas dormissem bem, né, gente? Até parece, hehehe.
O grande problema do sono dos bebês recém nascidos é que eles ainda não fazem a menor ideia de que o dia possui 24 horas, e que nessas 24 horas os adultos possuem tarefas inadiáveis. Mas na vida intrauterina este ciclo de dias/noites simplesmente não existia. No máximo, períodos de maior ou menor atividade e movimentos da mãe. Até que ele se habitue a estes ciclos, leva  tempo. E este tempo parece uma eternidade para a mãe, principalmente.
Existem autores que ensinam técnicas de treinamento do sono. Nem vou me dar ao trabalho de citar esses autores, pois o objetivo deste post não é estimular o uso destas técnicas, e sim ajudar você, caro leitor, a COMPREENDER o sono do recém nascido de uma maneira mais empática.


Aqui em casa o sling foi muito útil como ferramenta de auxílio. Para aumentar a sensação de conforto do bebê e nos cansar menos. Digo de auxílio, por que sozinho ele não faz milagres, foi uma ajuda dentre outras que conseguimos. Principalmente com a Maria, nossa quarta filha, estabelecemos um pequeno ritual de sono que consistia simplesmente em diminuir a luminosidade da casa, música ambiente (ela gostava das músicas que ouvíamos na gravidez!), antes da soneca um banho de balde ou mesmo um banho na banheira. No ambiente tranquilo, com bastante aconchego e tranquilidade, ela conseguiu bem antes do que pensávamos estabelecer um excelente padrão de sono. Maria ganhou um irmãozinho quando tinha 1 ano e meio, e para nós era uma grande necessidade que ela dormisse bem e não se sentisse excluída com a chegada do irmão. Não foi fácil e nem encontramos fórmulas mágicas. Seguimos nossa intuição, erramos, acertamos, mas o principal é que procuramos nos informar e compartilhar informações.
Seguem textos selecionados que nos ajudaram muito aqui em casa, que trouxeram muita luz para nossas ideias. Não são técnicas para serem copiadas, mas sim um material para reflexão, e que a partir desta reflexão cada família busque de maneira autônoma e livre meios de conseguir lidar com as situações. Aqui vão algumas!

Boa leitura!

TABELA DE SONO DOS BEBÊS

Afinal, quanto tempo eles dormem? Aqui vão estimativas aproximadas por idade. 
Tempo total de sono para diversas idades.

Recém-nascido: 1 Semana
- Bebê dorme bastante, 15-18 horas/dia
- Geralmente em intervalos de 2-4 horas
- Não há padrão de sono

2 a 4 semanas
- Sem tabela de horários, permita que o bebê durma quando precisa
- Bebê provavelmente não dormirá por períodos longos à noite
- O maior período pode ser de 3-4 horas


5 a 8 semanas
- Bebê está mais interessado em brinquedos e objetos
- O maior período de sono começa a aparecer regularmente nas primeiras horas da noite
- O período mais longo é de 4-6 horas (menos se tem cólicas)
- O bebê "fácil" tem períodos mais regulares
- Ponha-o para dormir aos primeiros sinais de cansaço
- Ponha-o pra dormir: não mais que 2 horas acordado
- Após acordar pela manhã já está pronto para soneca somente 1 hora depois
- O bebê vai se distrair mais facilmente, então precisa de um lugar quieto pra dormir
- Crie uma rotina de atividades que acontecem antes de cada soneca e da hora de dormir à noite
- Sinais de extrema fadiga: irritável, puxa o próprio cabelo, bate na própria orelha

3 a 4 meses
- A necessidade é maior de um lugar calmo e quieto para dormir, pois o bebê se distrai mais facilmente
- Não deixar o bebê acordado por mais de 2 horas (alguns aguentam somente 1 hora)
- 6 semanas de vida é quando o período de sono mais longo deve ser preferencialmente à noite (não de dia)
- O maior período de sono é somente de 4-6 horas
- Comece a colocar o bebê para dormir antes dele começar a ficar irritado ou sonolento


4 a 8 meses
- O sono do bebê se torna mais como o do adulto, com período inicial de não-REM
- A maioria acorda entre 7 da manhã, mas geralmente entre 6-8.
- Se o bebê acordar antes das 6 é bom colocar para dormir após mamar e trocar a fralda
- Não é possível mudar a hora que o bebê acorda de manhã colocando-o para dormir mais tarde
- Comidas sólidas antes de dormir também não resultam em acordar mais tarde
- O período acordado de manhã deve ser de cerca de 2 horas para bebê de 4 meses e 3 horas para bebês de 8 meses
- Então a soneca da manhã é por volta das 9 horas para a maioria
- Tenha um período tranquilo e quieto, parte da rotina de dormir, com duração máxima de 30 minutos. Essa rotina deve começar 30 minutos ANTES do fim do período que o bebê fica acordado
- Um soneca só é restauradora se é de 1 hora ou mais, algumas vezes 40-45 minutos conta, mas 1 hora ou mais é o ideal
- Conte com outra soneca após 2-3 horas acordado
- Evite mini-sonecas no carro ou parque
- Não deixe o bebê tirar uma sonequinha para compensar uma soneca perdida
- Se o bebê tira a soneca quando deveria estar acordado, bagunça a rotina acordado/dormindo
- A Segunda soneca é geralmente entre meio-dia e 2 da tarde (antes das 3)
- Deve durar 1-2 horas
- Uma terceira soneca poderá ou não ocorrer, se ocorrer será entre 3-5 da tarde e geralmente bem rápida
- A terceira soneca desaparece por volta dos 9 meses de idade
- A hora de dormir ideal é entre 6-8 da noite, decida pelo quanto a criança está cansada
- Empregue uma rotina antes da cama com a mesma sequência de eventos toda noite, assim a criança começará a predizer o que vem a seguir, ou seja, o sono
- A criança poderá acordar de 4-6 horas depois para mamar, algumas estarão com fome mas outras vão dormir direto, depende do indivíduo
- Uma Segunda mamada poderá ocorrer por volta de 4-5 da madrugada.

9 a 12 meses
- A maioria dos bebês dessa idade realmente precisam de 2 sonecas/dia com duração total de 3 horas de sono
- Por o bebê pra dormir à noite mais cedo permitirá que ele durma até mais tarde de manhã (em alguns casos não )
- Rotina usual: acorda às 6-7 da manha, soneca da manhã 9:00, soneca da tarde 13:00 (antes das 15:00 pra não atrapalhar com o sono da noite), dormir à noite entre 18:00-20:00
- Se o bebê que dormia à noite toda começar a acordar, tente antecipar a hora de dormir gradualmente de 20-20 minutos.

12 a 21 meses (1 ano a 1 ano e 9 meses)
- Muda de 2 sonecas para 1 soneca/dia, total duração de sono 2 horas e meia
- Se a mudança para 1 soneca é difícil, tente por na cama mais cedo, a criança poderá tirar 2 sonecas num dia e 1 no outro até estabilizar

21 a 36 meses (1 e 9 meses a 3 anos)
- Maioria das crianças ainda precisam de uma soneca
- Em média a soneca é de 2 horas mas pode ser entre 1-3 horas
- Maioria das crianças dormem entre 7-9 da noite, acordam entre 6:30-8 da manhã
- Se a soneca não aconteceu, é preciso por na cama mais cedo ainda
- Se a criança não dorme bem durante a noite, não permitir que a criança tire a soneca pode ser problemático, causar extrema fadiga
- Se a criança acorda entre 5-6 da manhã, e está bem descansada, pode-se tentar encorajar mais sono com cortinas escuras
- Ir pra cama mais cedo pode resultar em acordar mais tarde de manhã (sono traz mais sono, na maioria dos casos)

3 a 6 anos
- A maioria ainda vai dormir entre 7-9 da noite, acorda entre 6:30 e 8 da manhã
- Aos 3 anos a maioria das crianças precisam de 1 soneca todos os dias
- Aos 4 anos, cerca de 50% das crianças tiram soneca 5 dias/semana
- Aos 5 anos de idade, cerca de 25% das crianças tiram soneca 4 dias/semana
- Aos 6 anos de idade as sonecas geralmente desaparecem
- Aos 3 e 4 anos a soneca dura 1-3 horas
- Aos 5 e 6 anos a soneca dura entre 1-2 horas

7 a 12 anos
- A maioria das crianças de 12 anos vão dormir entre 7:30 e 10 da noite, na média 9 da noite. A maioria dorme 9-12 horas/noite.
- Muitas crianças de 14-16 anos agora precisam de mais sono que quando eram pré-adolescentes para manter a atividade ótima e serem alertas durante o dia


Tradução: Andreia Mortensen

 (Baseada no livro 'Healthy Sleep Habits'' de Marc Weissbluth)

link da nossa loja: 




 REFLETINDO SOBRE SUAS EXPECTATIVAS DE SONO

Tradução: Andreia Mortensen

Seu filho demora muito para pegar no sono? Ele só pega no sono mamando, tomando mamadeira, sugando chupeta, embalando, passeando no carro, ou outro tipo de ritual elaborado? Seu bebê acorda muito durante a noite? Seus problemas de sono são mais complicados ainda porque seu bebê não tira sonecas facilmente, ou essas são muito curtas?

Já se sentiu como Leesa, mãe de Kyra de 9 meses, que disse:"Estou realmente estressada, a falta de sono está afetando todos aspectos de nossa vida. Sou extremamente desorganizada e não tenho energia para tentar organizar nada. Amo essa criança mais que tudo no mundo, e não quero deixá-la chorando, mas eu estou quase chorando toda vez que penso que é hora de dormir. Às vezes penso em não ir pra cama mais, já que vou levantar daqui a pouco de qualquer maneira”.


Conforme seus problemas de sono “assombram” tua vida, você pode começar a viver puramente o momento. Seu cérebro privado de sono pode focalizar somente no sono que você começa a pensar já com antecedência nas próximas horas de descanso. Talvez existam pessoas te recomendando que deixe seu bebê chorar para dormir. Você está provavelmente frustada e confusa. Sem perspectivas. Para ganhar perspectiva, se pergunte o seguinte:

1. Onde você estará daqui a 5 anos? Como você olhará para trás e recordará desse tempo?
2. Eu ficaria orgulhosa de como lidei com as rotinas de sono do meu bebê, ou talvez me arrependeria do que fiz?
3. Como as coisas que faço com meu bebê hoje afetarão a pessoa que ele se tornará no futuro?

Uma vez que você tenha alguma perspectiva sobre os problemas reais de sono de seu bebê, é importante ser realista ao determinar seus objetivos e ser honesta ao acessar o efeito da situação em sua vida. Algumas pessoas conseguem lidar com duas acordadas à noite facilmente, enquanto outras tem muita dificuldade e apenas uma acordada é muito para suportar. A chave é avaliar se a rotina de seu bebê é um problema em seus olhos, ou somente de pessoas ao seu redor. Comece hoje a refletir sobre essas questões:

1. Estou feliz com o jeito que as coisas são, ou estou me sentindo ressentida, frustada, com raiva?
2. O ritual de sono do meu bebê está afetando negativamente meu casamento, trabalho, ou relações com outros?
3. Meu bebê é saudável, feliz, e parece bem descansado?
4. Estou feliz, saudável e bem descansada?
5. Quais são expectativas reais de sono para meu bebê em sua idade?
6. Que situação de soneca e sono à noite eu consideraria aceitável?
7. Que situação de soneca e sono eu consideraria um “sonho”?
8. Por que quero mudar os padrões de sono do meu filho? É realmente o melhor para mim e meu bebê, ou estou fazendo isso somente para satisfazer as expectativas de alguém mais?
9. Estou com desejo de ser paciente e fazer mudanças graduais, suaves, que significam não deixar meu bebê chorar sozinho?

Uma vez que você responda  aessas questões, você terá um entendimento melhor não somente do que está acontecendo em relação ao sono de seu bebê, mas qual método combina melhor com tua família para ajudar seu bebê a dormir melhor.

Além do meu filho de 2 anos, Coleton, tenho mais 3 outros filhos, e eles me permitiram a expectativa que perdi da primeira vez. Meus filhos me ensinaram que a primeira infância passa rapidíssimo. Eu me esforço agora para lembrar as dificuldades daqueles primeiros anos, tão passageiras que elas foram. E estou orgulhosa que não me entreguei às pressões dos outros ao redor de fazer o que ELES achavam certo. Ao invés disso, segui meu coração e gentilmente eduquei todos meus bebês. Aquele tempo passou para nós, mas as boas memórias ficam. E agora todos nós quatro dormimos a noite toda.
E eu também.




Sobre a autora: Elizabeth Pantley é autora de livros: Gentle Baby Care : No-cry, No-fuss, No-worry -- Essential Tips for Raising Your Baby, The No-Cry Sleep Solution: Gentle Ways to Help Your Baby Sleep Through the Night, Kid Cooperation Perfect Parenting, e seu ultimo The No-Cry Sleep Solution for Toddlers and Preschoolers e também é presidente da Cia. Better Beginnings, Inc.

Visite seu website: http://www.pantley.com/elizabeth.


A partir daqui, seguem 5 textos da série "EDUCANDO ESPECIALISTAS", publicados na página "Soluções para Noites sem choro", no facebook: Fica o convite para você curtir a página soluções para noites sem choro



1 -SOBRE O CHORO DOS BEBÊS: Crítica a métodos de adestramento

Por Tracy Cassels, estudante, mãe e autora de evolutionaryparenting.com. Tem bacharelado em Ciências Cognitivas pela Universidade de Califórnia, Berkeley e mestrado em Psicologia Clínica pela Universidade de British Columbia. Atualmente termina seu doutorado em Psicologia do Desenvolvimento com pesquisa focalizada nos fatores que contribuem ao comportamento de empatia nas crianças. Reside em Vancouver, Canadá com sua filha e marido.

Tradução de Andréia C. K. Mortensen

Vocês se auto denominam “encantadores de bebês” e “especialistas” em como fazer os bebês dormirem, e escrevem livros ensinando aos pais como cuidarem detalhadamente de seus filhos. Entretanto, parece que vocês precisam de um belo refinamento em sua formação/educação.
Olha, quando vejo uma mãe comprando seus livros, ou ouço suas aparições na TV dando seus ‘conselhos’, fico com coração partido pelos filhos dos pais que estão seguindo seus conselhos cegamente. Vocês fazem afirmações que não deveriam ser feitas, e os pais estão seguindos suas recomendações sem saber disso e com esperança de que estão fazendo o melhor para seus filhos. E vocês o fazem sem nenhuma consideração a uma super abundância de evidências científicas que sugerem que seus métodos não estão apenas equivocados, mas podem realmente prejudicar os bebês.

Eu pensei, dado o fato de que sou candidata a PhD em psicologia do desenvolvimento com acesso a todos artigos científicos peer-reviewed que existem, em oferecer algumas lições grátis (palavra que vocês raramente usam) sobre vários tópicos de educação que vocês tanto gostam de escrever. A princípio pensei que seria uma lição única cobrindo todos aspectos, mas percebi que resultaria numa matéria muito longa- obviamente que vocês precisam de tempo para integrar tudo e aprenderem a pararem de pregar para o povo novamente. Então farei-o em várias lições, cada uma cobrindo um tema.
Onde começar? Pensei em falar sobre o choro. Dada sua missão global de fazer os bebês pararem de chorar durante o dia ou noite, parece que vocês precism de um pouco mais de entendimento de por que bebês choram e o que significa um bebê que não chora. Então vamos começar.

Por que o bebê chora?
A resposta simples é que eles estão comunicando alguma necessidade. A resposta mais complexa começa com o fato de que o choro é a única forma de comunicação que bebês novos tem, e que a evolução se deu de tal forma que os pais querem atender o choro. Irrita seus ouvidos e quebra seu coração de tal modo que você tem o impulso de atender as necessidades do bebê imediatamente, e NÃO te dá o impulso de ignorar o choro na esperança que ele pare. Não interessa se você está dormindo ou não, ou se teu bebê estava dormindo, fisiologicamente um bebê chorará quando necessita de algo, a menos que:

a) ele ou ela tenha sido treinado para não chorar, ou b) o bebê esteja num estado fisiológico que reduziria sua capacidade de chorar.
Todos vocês, não importa se alegam ser favoráveis ao método de deixar o bebê chorando sem consolo para treiná-lo a adormecer sozinho ou não, sugerem formas de deixar o bebê chorando. E todos vocês promovem maneiras de "treinar" seu bebê para não chorar. Então na verdade vocês propõem ignorar as necessidades do bebê e treiná-los a parar de comunicá-las a você. Para prosseguir devemos estar claros nessa questão, pois é crítico que entendam o papel chave que o choro desempenha na vida de uma criança.
Entretanto, a questão ‘por que os bebês choram’ é bem simples. A maioria das pessoas tem consciência que é pelo choro que as mães irão trocar as fraldas ou amamentarem o bebê mesmo se acabaram de mamar, tudo para tentar atender suas necessidades. A verdadeira pergunta que deve ser feita é: o que significa quando uma criança não chora ou para de chorar?

Por que o bebê para de chorar?

Vocês tem esta resposta em todos seus conselhos, métodos de treinamento, sites e livros. Vocês supõem que porque um bebê para de chorar, ele ou ela estão bem. Ou se depois de duas semanas um bebê não chora mais antes de adormecer, ele ou ela aprendeu a rotina sugerida. Mas, infelizmente, para os bebês que têm que suportar os conselhos que vocês dão, esse não é o caso. Então por que bebês realmente param de chorar?


a) A melhor resposta para o bebê é que suas necessidades foram atendidas. O bebê estava com fome e mamãe o amamentou. Bebê estava com fralda molhada e mamãe lhe trocou. A parte fascinante disso é que, ao atender as necessidades do bebê prontamente, há uma redução no choro a longo prazo de uma forma saudável. Mary Ainsworth e Silvia Bell, duas psicólogas do desenvolvimento, fizeram um estudo longitudinal na década de 70 na Universidade Johns Hopkins, e analisaram como mães responderam ao choro do bebê e como isso afetou seu comportamento a longo prazo [1]. O que elas descobriram foi que o quão mais rápido as mães responderam ao choro do bebê (não importando o quão efetiva foi sua tentativa de reduzir o choro num momento em particular), menos a criança chorava mais tarde. E mais, também descobriram que o contato maternal íntimo (ou seja, toque), foi a forma mais efetiva de parar o choro num dado episódio. Em resumo, quando suas necessidades foram atendidas os bebês pararam de chorar. E ainda mais, quanto mais responsivo o pai ou mãe forem ao choro do bebê, menos a criança chorará no futuro. Indo além, uma grande quantidade de pesquisas científicas sobre a teoria do apego demonstra que quanto mais responsivo o pai ou mãe são no primeiro ano de vida da criança, melhor será o apego e portanto melhor sua relação [2][3][4][5].
Em sintonia com esses pensamentos vem as pesquisas de Dymphna van den Boom, que trabalhou com mães de bebês de 6 meses que choravam bastante. Um grupo de mães foi orientado a aumentar a resposta positiva e a sensibilidade ao bebê e o outro foi o grupo controle [6]. No fim do terceiro mês ela descobriu que as mães do grupo experimental ficaram mais sensíveis, responsivas e estimulavam mais os bebês do que que mães no grupo controle. Além disso, os bebês desse grupo se mostraram mais sociáveis, tiveram maior interesse em explorar o ambiente e de se auto-confortar, e também choraram menos que o grupo controle. Estes efeitos de respostas maternas positivas no comportamento da criança também se extenderam a longo prazo, de acordo com as pesquisas de Maayan Davidov e Joan Grusec em crianças de 6-8 anos que relacionam maior responsividade materna ao estresse com maior nível de empatia e comportamento social nessa idade [7].
Por que isso acontece? Bem, vocês estão certos sobre uma coisa- bebês aprendem e eles aprendem rápido. O que vocês estão errados é sobre o que eles aprendem. Quando novinhos, a única coisa que bebês realmente internalizam é o sentiment de serem atendidos e cuidados ou não, e isso terá uma grande influência no seu comportamento no futuro, o que inclue choro, empatia e solicitude. Nós só podemos saber o que aprendemos, então uma criança que aprendeu amor e compaixão e sensibilidade vai passer para frente esse tipo de comportamento, enquanto que a criança que conhece negligência simplesmente resignará a si mesmo. Vamos continuar discutindo essa questão.


b) Uma segunda razão que o bebê pode não chorar é se há uma razão fisiológica ou física que o impede de chorar. A razão mais comum é uma mudança drastica na temperatura, especificamente super-aquecimento. O bebê super aquecido irá chorar até certo ponto, mas conforme a temperatura aumenta, as chances de chorar diminuem porque o corpo direciona as energias para tentar regular a temperatura, o que resulta em aumento ainda maior na temperatura e perigo para o bem estar do bebê. Um de vocês (especificamente Tizzie Hall, no livro Save our Sleep, 2009), promoveu que colocar várias camadas de roupa no bebê preveniria-os de acordar a noite, sob a suposição que bebês despertam porque eles estão com frio (não por causa das necessidades nutricionais e de conforto da amamentação). Os riscos de de superaquecer, ou hiperthermia, incluem convulsões, coma, danos neurológicos e morte [8]. Um caso clínico nos anos 70 mostrou que as doenças severas em 5 bebês (dos quais 4 faleceram) tinham um quadro de febre, choque, e convulsões antes de morte, com causa clínica mais provável devido ao super-aquecimento por uso de muitas camadas de roupa [9]. Hás evidências também que sugerem que hiperthermia tem um papel na Síndrome da morte súbita do berço (SIDS) [10][11][12]. É importante então lembrar-se da regra geral que bebês devem ter só mais uma camada de roupas que os adultos. Ao promover práticas que levam crianças ao super aquecimento, não se diminui somente sua capacidade para chorar, mas se aumenta o risco de morte.

c) Finalmente, a razão mais provável de uma criança parar de chorar durante o processo de treinamento de sono é que ele ou ela desistiu ou aprendeu que não será atendida. Se você vê um bebê chorando como uma criatura manipuladora (como a maioria de vocês vêem), então achará positivo esse resultado da desistência do choro. Na verdade, essa era a visão vigente de comportamento infantil na metade do século 20, quando os pais foram orientados a não atender o choro e carregar seus bebês no colo com receio de ‘estragá-los’ e criarem pequenos tiranos [13]. Essa visão se alastrou uma vez que a teoria do aprendizado se tornou o leme na psicologia, quando demonstrou-se que as pessoas se comportam conforme recompensas e castigos que recebem. John B. Watson foi o primeiro psicólogo a promover o behaviorismo como uma forma de aprendizagem e o primeiro a extender essa teoria para a infância com seu famoso experimento com o 'pequeno Albert'. Esse experimento foi um caso clínico demonstrando o condicionamento clássico (exatamente o que você todos propõem em seus livros) num bebê de 8 meses. Neste estudo, o menininho é condicionado a ter medo de ratos brancos. Para fazer isso, o bebê foi levado a uma sala e sentou num tapete enquanto que um rato branco de laboratório passeava livremente.


No início, o menininho não mostrou nenhum medo do rato. Quando ele tentou tocar o rato, Watson e sua assistente, Rayner bateram com um martelo numa barra de aço, fazendo um barulhão que fez Albert ficar com medo e chorar. Continuaram com esses testes, a cada tentativa de Albert de tocar o animal, eles batiam na barra de aço e assustavam o bebê. Eventualmente, o bebê Albert tenta escapar do rato, mostrando que ele foi condicionado a ter medo do animal. Surpreendentemente, duas semanas mais tarde, Albert mostrou medo de qualquer objeto peludo, mostrando que seu condicionamento tinha sido generalizado e permanente [14]. Baseado no seu trabalho e na crença forte no behaviorismo, Watson também escreveu sobre como educar crianças [15]. Seu foco foi que os pais deviam manter uma distância emotiva dos filhos para não estragá-los. Foi seu trabalho que levou à idéia generalizada de que não se devia tocar a criança com muita frequência (lamentavelmente ele mais tarde admitiu que ele se arrependeu de escrever sobre comportamento infantil porque ele mesmo compreendeu que ele não sabia suficiente sobre isso. Mas o dano já tinha sido feito).

Então você pode ensinar seu filho a não chorar condicionando-o a não chorar. Não respondendo seus choros lhe ensina que o choro não vai resultar em obter o que ele precisa. Enquanto todos vocês vêem isso como algo positive, tem uma consequência muito séria- desamparo aprendido. O conceito de desamparo aprendido foi concebido por Martin Seligman em resposta ao behaviorismo. Seligman tinha feito trabalhos com cães e achou que eles não estavam se comportando da maneira que o behaviorismo prediz quando eles deveriam estar condicionados [16]. Especificamente, ele testou cães que foram condicionados a choques elétricos. Em grupos, os cães foram amarrados juntos de modo que só um tinha controle no final dos choques elétricos; ao outro cão o final do choque eram randômico. Seligman e Maier, seu sócio nestas experiências, descobriram que o grupo de cães que não tiveram controle sobre o final dos choques exibiu comportamento muito parecido com depressão clínica em adultos. Além disso, quando estes cães foram então apresentados a uma situação que eles tinham controle, eles falharam em controlar- eles simplesmente sentaram-se e desistiram. Estes resultados foram duplicados com outros animais, inclusive bebês (embora num paradigma benigno) [17], todos com os mesmos resultados – uma vez que animais e bebês aprendem que não tem controle, eles param de tentar influenciar ao seu redor, chamar atenção, mesmo que o ambiente mude. Choro sem consolo, rotinas rígidas, e comportar-se com a criança como se ela fosse manipuladora, levará à remoção de controle que uma criança tem sobre o seu ambiente. Chorar é a únicaforma de controle que um bebê tem e seu choro deve ser tratado com o respeito nós mostraríamos a outro adulto numa conversa sobre o que eles necessitam. E apesar de que experimentos que possam danificar a criança não foram feitos por uma questão ética, o psicólogo Dr. Kevin Nugent descobriu muitos sintomas depressivos em bebês cuja comunicação com seu pais é deficiente. Pais que não podem responder ou que são simplesmente não-responsivos as tentativas da criança de se comunicar tem bebês que exibem sinais clássicos de depressão grave [18].
Em resumo, não responder as tentativas do bebê de comunicação irá resultar no mínimo numa desistência e possivelmente comportamento de desamparo aprendido a longo prazo. Esse tipo de não-choro é prejudicial para o bem estar psicológico do bebê a longo prazo, não importando o quão benéfico possa ser para pai e mãe no presente momento.


Conclusões

Espero que vocês tenham aprendido que:
a) choro é simplesmente uma forma de comunicação e é a única que o bebê tem, e...
b) que todas as formas de choros não são semelhantes. Bebês devem aprender que eles tem controle sobre seu ambiente e podem efetivar mudanças em suas vidas; eles também precisam saber que eles são amados e cuidados. Eles não manipulam seus pais- na verdade, eles são incapazes de fazerem, e os trabalhos de Mary Ainsworth demonstraram que o choro está muito longe de ser uma forma de manipulação, mas é uma de iniciar comunicação entre bebê e cuidador e é essa comunicação que leva a diminuição natural do choro conforme o tempo [1][2]. E mais importante ainda é que vocês compreendam que simplesmente porque um bebê parou de chorar- como tão reconhecido que o treinamento de sono produzirá o cessar do choro- é que isso não é uma boa coisa. Na verdade, o único tipo de final de choro que é bom é aquele que resulta do atendimento das necessidades da criança. O resto é simplesmente preparer a criança para ou risco de doenças ou morte (hiperthermia) ou prejuízo psicológico (desamparo aprendido). (Note que há também dano neurológico mas chegaremos lá quando discutirmos outras técnicas de choro sem consolo.)
Claro, isso nos leva ao segundo tópico da série que será: Quais são as ‘necessidades’ dos bebês? O maior paradigma em seus programas de rotina e treinamento é que, se o bebê tem suas necessidades físicas atendidas, tudo bem deixá-lo chorando. Mas, você estão errados, então fiquem ligados no próximo artigo…





[1] Bell SM & Ainsworth MSD. Infant crying and maternal responsiveness.  Child Development (1972); 43: 1171-1190.
[2] Ainsworth MDS. The development of infant-mother attachment. In BM Caldwell & HN Ricciutti (Eds.), Review of child development research (1973) (Volume 3, pp 1-94); Chicago: University of Chicago Press.
[3] Egeland B & Farber EA. Infant-mother attachment: Factors related to its development and changes over time. Child Development (1984); 55: 753-771.
[4] Isabella RA & Belsky J. Interactional synchrony and the origins of infant-mother attachment: A replication study.  Child Development (1991); 62: 373-384.
[5] Isabella RA, Belsky J, & von Eye A. The origins of infant-mother attachment: An examination of interactional synchrony during the infant’s first year. Developmental Psychology (1989); 25: 12-21.
[6] van den Boom DC. The influence of temperament and mothering on attachment and exploration: An experimental manipulation of sensitive responsiveness among lower-class mothers of irritable infants.  Child Development (1994); 65: 1457-1477.
[7] Davidov M & Grusec JE.  Untangling the links of parental responsiveness to distress and warmth to child outcomes.  Child Development (2006); 77: 44-58.
[8] Waldron S & MacKinnon R. Neonatal thermoregulation. Infant (2007); 3: 101-104.
[9] Bacon C, Scott D, & Jones P. Heatstroke in well-wrapped infants. The Lancet (1979); 313: 422-425.
[10][10] Nelson EAS, Taylor BJ, & Weatherall IL. Sleeping position and infant bedding may predispose to hyperthermia and the sudden infant death syndrome.  The Lancet (1989); 333: 199-201.
[11] Ponsonby AL, Dwyer T, Gibbons LE, Cochrane JA, Jones ME, & McCall MJ. Thermal environment and sudden infant death syndrome: case-control study. British Medical Journal (1992); 304: 277.
[12] Kleemann WJ, Rothamel T, Troger HD, Poets CF, & Schlaud M. Hyperthermia in sudden infant death. International Journal of Legal Medicine (1996); 109: 139-142.
[13] US Children’s Infant Bureau pamphlets (1924).
[14] Watson JB & Rayner R. Conditioned emotional reactions. Journal of Experimental Psychology (1920); 3: 1-14.
[15] Watson JB. Psychological care of infant and child (1928). New York: WW Norton Company Inc.
[16] Seligman MEP & Maier SF. Failure to escape traumatic shock. Journal of Experimental Psychology (1967); 74: 1-9.
[17] Watson J & Ramey C. Reactions to response-contingent stimulation in early infancy.  Revision of paper presented at biennial meeting of the Society for Research in Child Development.  Santa Monica, CA, March 1969.

NECESSIDADES
Por Tracy G. Cassels

Tradução de Andréia Mortensen


Aviso: Me desculpo com antecedência pelo tom ‘seco’ desse artigo. Infelizmente, há situações em que a informação precisa ser transmitida e não há como usar de delicadeza. Mas prometo que o artigo com a lição número 3 terá uma linguagem mais ‘sexy’.



Um dos mantras pregados por vocês que tentam “salvar o sono dos pais” é que uma criança que tem todas suas necessidades atendidas só chora para te manipular. Vocês afirmam que o choro é um mau comportamento e que precisa ser reprimido– pois você precisa mostrar ao bebê quem é que manda e que seu choro não vai resultar no que ele quer!
Entretando, se lembrarmos da lição número 1:
Educando os especialistas- por que o bebê chora? Razões científicas porque treinamentos de sono não são recomendados


O choro é a única forma de comunicação que bebês novinhos tem, então se o ignorarmos ou tentaremos reprimi-lo simplesmente estaríamos eliminando a única forma da criança nos dizer o que precisa.

Ainda assim vocês dizem aos pais que, contanto que se certifiquem que a fralda está seca, que estão alimentados e quentinhos, que não há mais razões para o choro. Necessidades? Todas atendidas!
Então vocês dão permissão aos pais de deixarem seus bebês chorarem e de ignorá-los (ou de fazer outras coisas estúpidas como ficar no quarto olhando para eles mas sem permissã de tocá-los, de pegá-los no colo).  Mas eu tenho uma pergunta para os tais especialistas que gostaria de uma resposta:  Mesmo que não estejam com fome, ou com frio, ou secos, já se sentiram tristes, ou assustados?  Ou simplesmente sentiram a necessidade de contato humano? 

Se responderam não, vocês estão mentindo, ou são psicopatas.

A razão que nos sentimos assim é que nossas necessidades vão muito além das necessidades fisiológicas e, sem sombra de dúvida, para um bebê, as psicológicas e emocionais podem ser tão importantes como as fisiológicas para sua sobrevivência.

Como vocês chegaram a essa visão tão limitada sobre as “necessidades” dos bebês?

Reconheço que é real que temos necessidades fisiológicas que precisam ser atendidas antes de consideramos as psicológicas e emocionais. Precisamos de água, comida e aquecimento para sobreviver. Mas há mais, e eu consigo admitir que essa visão não é ‘privilégio’ de vocês. Lamentavelmente vocês parecem ter usado mais algumas páginas do manual dos ‘behavioristas’ para o desespero dos bebês…

Behaviorismo

Por muitos anos a teoria psicológica dominante foi a visão behaviorista liderada por John Watson, B.F. Skinner, e Edward Thorndike.  Como comentado na lição número 1, por causa dos da crença dos behavioristas no condicionamento, o behaviorismo também tem como base a noção de que todos bebês nasceram como uma ‘tábula rasa’ ou papel em branco. Como John Watson afirmou em sua famosa afirmação sobre 12 bebês:


Me dê uma dúzia de bebês saudáveis, nascidos a termo, e me permita criá-los do meu modo, que lhe garanto que posso fazê-los se tornarem qualquer tipo de especialista que eu selecione- medico, advogado, artista, comerciante, e até mendigo e ladrão. Não importam seus talentos, capacidades, vocações e carga genética.[1]

O que isso tem a ver com necessidades?  A base do behaviorismo é que não há algo como a introspecção; estados mentais eram irrelevantes sem comportamento [2], ou, como Skinner alegou, estados mentais eram absolutamente rejeitados [3].  Então, a visão da tábula rasa implica que as capacidades psicológicas dos bebês são diminuídas, se eles podem ser completamente moldados, não há muito com o que começar.

A visão de que a criança aparentemente falha ao demonstrar fenômenos psicológicos foi usada como prova concreta de que elas simplesmente não ocorrem. Se não há estados psicológicos para competir, e somente aprendizado, então as únicas necessidades que os bebês tem são as fisiológicas. (Vale a pena notar que nem todos psicólogos ou até behavioristas acreditavam nisso, mas esse visão se tornou mais proeminente e ganhou atenção das massas). Por isso, e pelo fato de que o condicionamento não trabalha no sentido behaviorista, muitos conselhos sobre educação para os pais derivam dessa visão).

Estados psicológicos dos bebês



Agora sabemos que a idéia de que os bebês não tem estados psicológicos ou emocionais é falsa.  Bebês não tem o meta-conhecimento que a maioria dos adultos tem sobre seus estados psicológicos, mas ambos senso comum e pesquisas científicas demonstraram que bebês sentem estes estados regularmente e que a empatia e resposta dos pais aos bebês tem efeitos que vão além do que se pensa.

Na verdade, até os behavioristas teriam que concordar que bebês experimentam emoções como medo, como demonstrado no experimento realizado por John Watson com o pequeno Albert (discussed na lição 1), em que o bebê foi condicionado a ter meto de ratos [4]. 

Então, se os bebês tem estados emocionais, qual o papel que os pais tem?  Os pais que entendem o ’reflexive self’ (a noção de que podemos ter ciência de eventos mentais, emoções, etc e isso é diferente de SENTIR essas emoções) e usam esse entendimento na maneira que lidam com seus filhos, tem filhos que são tem vínculo mais seguro e que mostram melhor ciência de seus estados mentais mais tarde na vida dos que não tem esse vínculo firme com os pais [5].  Isto é, tratar um bebê sabendo que tem mentais e emocionais, não somente físicos, vai gerar um vínculo maior entre pais e filhos, e ajudará a criança a entender seus proprios estados emocionais no futuro ( isso não deveria ser surpreendente, mas por alguma razão essa não é uma visão comum).



Mais evidências focalizando nos estados psicológicos e mentais dos bebês e na relação com o comportamento de seus pais vem do Paradigma da face imóvel [6].  Veja video sobre isso aqui- 
Neste paradigma, pais estão face-a-face com seus bebês, interagindo com eles, quando a mãe para de interagir e mantém uma face imóvel, sem expressar nenhuma emoção, e então após um tempo finalmente re-inicia a interação com o bebê. Durante o comportamente onde sua face está imóvel, os bebês mostram efeitos negatives que aumentam com o tempo, como rejeição, caretas, tenta agarrar a si próprio, e choro (entre outros).  Os motivos da criança mudar seu comportamento tem importância fundamental e há hipóteses com explicações. Uma é que a mãe transgride as expectativas do bebê de comportamento e por isso fica angustiado. Uma segunda hipótese é que a mãe parou de fornecer encorajamentos sensoriais importantes para o bebê conseguir regular seu proprio estado afetivo e social [7]. 


Pesquisas mostram que a segunda interpretação faz mais sentido, já que simplesmente tocar o bebê durante a fase de rosto imóvel reduz o estresse que o bebê tipicamente apresenta [8][9][10].

Então, argumento que nós somos forçados a aceitar a noção de que não somente bebês tem estados psicológicos, mas a maneira com que nós interagimos com nossos filhos afetam esses estados profudamente, positivamente ou negativamente.

Indo além, vamos considerar que tipos de estados psicológicos são relevantes como necessidades. O mais comum é se referir ao estresse infantil como necessidade de conforto, então a maior parte do que iremos discutir se refere a isso.

Entretanto, eu seria negligente se sugerisse que essa necessidade é a única. Bebês precisam de estímulos sociais em qualquer estado emotivo, como o paradigma da face imóvel sugere; esses bebês estão felizes enquanto há interação e então tentam muito angariar a atenção de seu cuidador para retornar a este estado de social interação.

Interessantemente, neste paradigma, mesmo após a volta da interação da mãe com o bebê, o padrão de excitação do bebê são estranhos– enquanto que o afeto positivo volta rapidamente, o afeto negativo não desaparece por um bom tempo, com aumento do choro por causa do evento negativo breve [11].  Este aspect provará ser mais importante na outra lição, mas isso demostra que a necessidade de reduzir o afeto negative no bebê podedemorar- não é uma resposta instantânea.

Quais são as necessidades humanas?       
                                                            
Mesmo durante o reino do behaviorismo na psicologia, a teoria do desenvolvimento humano estava sendo formada, o que teria um longo alcance. Abraham Maslow, pensando nas linhas de Freud e Erickson, desenvolveu um estudo sobre estágios do desenvolvimento psicológico humano.  Uma informação interessante e relevante é que seu foco foi no estudo das necessidades humanas. A Hierarquia das Necessidades de Maslow enfatizou a visão de que, como humanos, temos níveis de necessidades e que somente quando um nível de necessidades é satisfeito podemos ter o ímpeto de satisfazer a próxima [12][13].  Geralmente interpretada na forma de pirâmide, os níveis são os seguintes (começando da última no fundo, ou da mais básica, até o topo):



a)      Fisiológicas: respirar, comida, água, sexo, excreção, homeostase

b)      Segurança: segurança pessoal e financeira, seguro saúde, doença e para acidentes

c)       Amor e Relações afetivas: relações primárias na vida (família, amigos, romance)– note que na infância essa necessidade pode vir ANTES do item b, segurança.

 d)      Estima: respeito, aceitação e valorização dos outros

e)      Auto-realização: compreender e cumprir um potencial pleno na vida


As primeiras 4 necessidades são referidas como necessidades de deficiência, porque são, na visão de Maslow, necessárias. Enquanto que a primeira é necessária para a simples sobrevivência do organismo, a segunda, terceira e quarta são também necessárias e Maslow argumenta que, sem elas, indivíduos se sentiriam psicologicamente privados (o que inclue tensão, ansiedade, depressão). Outros pesquisadores testaram essa teoria e confirmaram os resultados, sugerindo que nosso bem-estar está intrinsicamente ligado a nossa capacidade de suprir essas necessidades [14].

Sim, é verdade que existiram críticas a hierarquia de Maslow[15], mas não houve críticas que sugeriram que essas necessidades NÃO eram necessidades mesmo. Por exemplo, houve críticas sobre a natureza da hierarquia, alguns sugeriram que não havia necessidade de hierarquia para representar essas necessidades, enquanto que outros sugeriram que a hierarquia é dependente do contexto cultural (e então a terceira necessidade- amor e relações afetivas- seria mais superior em culturas de coletivismo).  Mas seria muito difícil achar um indivíduo hoje que assuma que humanos, até bebês, não tem necessidades que não as físicas.

Espero que a este estágio vocês já aceitaram que as necessidades psicológicas e emocionais são reais e acontecem no mundo todo. Que assumir que somente o primeiro nível de necessidades fisiológicas tem importância quando se trata de bebês é ignorar todas as pesquisas científicas (e senso comum) que demostra que há muito mais no bem-estar do que simplesmente estar alimentado, seco e não ter dor física.

 Importância das necessidades Fisiológicas e Emocionais

Assumindo que nós estamos de acordo com necessidades psicológicas não são as únicas, a próxima questão é discutir o que acontece quando essas necessidades psicológicas e emocionais não são atendidas?  Aqui vou descrever 4 áreas de pesquisa que ajudam a demonstrar as consequências muito reais de ignorar as necessidades psicológicas e emocionais de nossos bebês.



a)      Crianças em orfanatos no início para a metade do século 20. 
Nossos melhores entendimentos dos efeitos de privação das necessidades emocionais e psicológicas vêm de estudos de indivíduos que cresceram em ambientes em tais ambientes e comparando-se com outros que tiveram suas necessidades atendidas. Isto é difícil de fazer, já que não se pode forçar uma criança numa situação que lhe prejudicará, mas, infelizmente, há situações que existiram que permitiram que esse tipo de pesquisa fosse feita. Por muitos anos, bebês colocados em cuidados institucionalizados, foram cuidados da maneira mais básica– eles eram segurados para se alimentarem, então trocados, e alguns tinham alguns móbiles para olhar– mas raramente eles eram estimulados socialmente e certamente não tinham suas necessidades de conforto emocional atendidas. Eles choravam e eram deixados chorando sem consolo em parte por causa da crença de que somente suas necessidades físicas tinham que ser atendidas.

Mas algo estranho estava acontecendo… bebês estavam falecendo. Na primeira parte do século 20, foram relatados que perto de 90% de bebês em orfanatos estavam morrendo, e os 10% que sobreviviam estavam recebendo algum tipo de cuidado de fomento (pais ‘foster’)[16].  Crianças que não morreram em orfanatos mostraram disfunções psicosociais (isto é, problemas de saúde mental) em estudos feitos na metade do século 20, além de estresse e doenças crônicas [17].  Notavelmente, tão logo que os orfanatos providenciaram conforto como parte dos cuidados básicos para os bebês, as taxas de mortalidade e morbidade diminuiram dramaticamente [18].

b)      Relatório de John Bowlby sobre ‘Cuidados maternos e saúde mental’ [19]
No final da Segunda Guerra Mundial, a OMS se mostrou extremamente preocupada com o que se mostrou ser resultados negativos da guerra nas crianças do leste europeu. Devido as trabalhos acadêmicos e clínicos de Bowlby nas crianças com problemas e efeitos das institucionalizações no desenvolvimento (que ele descobriu serem problemas mentais associados com a falta de necessidades emocionais e psicológicas atendidas), ele foi contratado para escrever um relatório sobre Saúde Mental das crianças sem teto e orfãs do Leste Europeu.

Nesse relatório foi incluído que crianças precisam de uma relação íntima e segura, econtínua com sua mãe ou uma mãe substituta, e que a falta desse tipo de relacionamento  pode ter consequências sérias e irreversíveis para sua saúde mental.

Ele notou que as necessidades sociais não são secundárias as necessidades físicas, mas que são igualmente primárias. Bowlby foi um dos primeiros a argumentar que o relacionamento pela alimentação não era a maneira primária que a mãe afetava o bem-estar de seu bebê, mas sim a intimidade entre ela e seu bebê ao oferecê-la conforto era mais importante!

A monografia, que foi altamente criticada na época, porque muitas pessoas argumentaram que uma relação forte entre pai e filho não era necessária para o bem estar da criança ou que o amor maternal não era necessário. A parte da alimentação, entretanto, foi a mais criticada na época, já que muitas pessoas acreditavam que só por atender uma necessidade física da criança já se estabeleceria um vínculo entre pai e filho, ou que contanto que a criança estivesse alimentada, não importava o que mais acontecesse.

Mais pesquisas, includindo os trabalhos de Bowlby e Ainsworth a na teoria do apego, iriam silenciar muitas dessas críticas (embora é óbvio que não todas!), e hoje não há dúvida que falta de uma relação entre pai e filho ou falta de amor maternal e paternal resulta em deficiências de saúde mental.


c)       Uma criança de 2 anos vai para o Hospital.
Em 1953, James Robertson produziu um documentário sobre o que acontece com uma criança que tem que ir ao hospital e portanto sofre com separação maternal. Esse é um filme que quebra o coração que é agora mostrado em quase todos cursos sobre Psicologia do desenvolvimento. A motivação de fazer esse filme foi que, na época, a visitação de crianças em hospitais era muito limitada, e durante seu trabalho como psicoanalista ele observou o comportamento das crianças após a separação. Os médicos que tratavam os problemas psicológicos observaram crianças novas (Robertson focalizou nas crianças menores de 3 anos) protestarem no início, mas também observaram que logo, logo, elas se tornavam obedientes e quietas (parece familiar, especialistas?).  O que Robertson observou após anos de estudo das crianças de uma perspectiva psicológica foram 3 fases de resposta: Protesto, desespero, então Negação/ Desapego[20].

O filme foi feito para mostrar evidências desse trauma e é centralizado na menina Laura, de 2 anos de idade, que vai para o hospital para uma pequena operação, mas tem que ficar 8 dias no hospital. Se você conseguir achar o filme e conseguir assistí-lo (pois você VAI chorar), você testemunhará uma criança que é muito nova para entender a ausência de sua mãe e que chora e chora por ela regularmente, mas que é forçada a encarar essa experiência muito assustadora e dolorosa, por conta própria. Ela finalmente se aquieta e “se ajusta” como os medicos dizem, mas uma vez que sua mãe retorna, o que vemos é uma Laura desajustada. Ela permanece distante, mesmo de sua mãe, mostrando sinais de ter sofrido um trauma massivo. Não há nenhum seguimento da vida de Laura, mas o filme é a razão porque muitos hospitais mudaram suas regras de visitação/permanência de parentes de crianças. 

Análises mais profundas das afirmações de Robertson demonstraram que era verdade que as mudanças nas políticas hospitalares eram absolutamente necessárias.

d)      Os macacos de Harry Harlow. 
Por causa do trabalho de John Bowlby e o filme de Robertson e a perda de cuidados maternais, Harlow decidiu estudar mais a fundo quais elementos cruciais das mães que estava dando resultados tão negativos relatados por Bowlby e Robertson.  Em estudos que jamais passariam nos comitês de ética atualmente, Dr. Harlow estava motivado a descobrir qual o peso relativo do elemento ‘comida’ e do elemento ‘conforto’ maternais.



Para fazer isso, Harlow separou macacos bebês de suas mães no nascimento e colocou-os com 2 tipos de mães substitutas. No experimento mais marcante uma mãe era de ferro e tinha comida para o macaquinho, enquanto que a outra era de pano e foi projetada para dar alguma forma de conforto ao macaquinho. Muitas pessoas acharam que o macaquinho passaria a maior parte do tempo com a mãe de ferro que dava comida, mas exatamente o oposto aconteceu!

Os macaquinhos iam a mãe de ferro quando estavam com fome, mas passavam a maior parte do tempo com a mãe de pano. E quando alguma coisa negativa ou assustadora acontecia, eles se agarravam as mães de pano para se protegerem e se confortarem. Quando os macaquinhos foram transferidos a novos ambientes com sua mãe de pano, eles usavam-a como base de exploração. Se não havia nenhuma mãe presente (de ferro ou pano), os macaquinhos se tornavam irregulares, erráticos, perturbados e violentos. Eles mostravam medo do ambiente e não tinham base segura para explorar; e somente o que a mãe de pano lhes ofereceu deu-lhes a fundação psicológica.
Em resumo, apesar de terem suas necessidades fisiológicas imediatamente satisfeitas com a mãe de ferro, somente a mãe que lhe deu conforto (embora não satisfatório) é que lhe providenciou o conforto psicológico necessário para que os macacos lidassem com novas situações.

Essas pesquisas então demonstraram que falhar ao  atender as necessidades psicológicas e emocionais dos bebês resulta em déficits sociais dramáticos, problemas físicos mais tarde na vida, e até a morte.
Eu sei que a maioria de vocês diria que hoje em dia esses pais que seguem conselhos de seus livros não estão passando por circunstâncias extremas. E vocês estão certos.


Mas, ao saber o que acontece em casos extermos, podemos ser capazes de entender alguns dos efeitos mais sutis que podem acontecer de uso moderado desses comportamentos. É importante lembrar que esses efeitos não acontecem numa escala móvel- não é TUDO ou NADA – e que efeitos de negligências regulares de alguns dos elementos psicológicos e emocionais terão efeitos a longo prazo e de longo alcance nas crianças.


Resumindo … apesar das melhores tentativas dos behavioristas de nos fazer acreditar que os bebês são realmente tábulas rasas sem estados psicológicos,  sabemos que isso não é verdadeiro. Bebês podem não ter uma consciência completa dos seus estados interiores, mas eles sentem e experienciam o mundo socialmente e estes estados são sem dúvida tão importantes como seus estados físicos. Pesquisas mostraram que falhar ao atender essas necessidades psicológicas e emocionais pode levar a deficiências mentais severas, doenças e até morte.

Portanto, são ridículos e prejudiciais aos bebês conselhos que insinuam que todas necessidades do bebê estão atendidas porque a fralda está trocada e estão alimentados.

Então o que podemos fazer?  Bem, isso será discutido na lição número 3, com enfoque na importância do toque.




[1] Watson JB. Behaviorism (1930).  Chicago: University of Chicago Press. Pp 82.
[2] Watson JB. Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review (1913); 20: 158-177.
[3] Skinner BF. About Behaviourism (1974). Cape.
[4] Watson JB & Rayner R. Conditioned emotional reactions. Journal of Experimental Psychology (1920); 3: 1-14.
[5] Fogany P, Steele M, Steele H, Moran GS, & Higgitt AC. The capacity for understanding mental states: The reflective self in parent and child and its significance for security of attachment. Infant Mental Health Journal (1991); 12: 201-218.
[6] Tronick EZ. Emotions and emotional communication in infants. American Psychologist(1989); 44: 112-126.
[7] Stack DM & Muir DW. Tactile stimulation as a component of social interchange: New interpretations of the still-face effect. British Journal of Developmental Psychology (1990); 8: 131-145.
[8] Gusella JL, Muir DW, & Tronick EZ. The effect of manipulating maternal behaviour and interaction in three- and six-month-olds’ affect and attention. Child Development (1988); 59: 1111-1124.
[9] Stack DM & Muir DW. Adult tactile stimulation during face-to-face interactions modulates five-month-olds’ affect and attention. Child Development (1992); 63: 1509-1525.
[10] Stack & Muir (1990).
[11] Weinberg MK & Tronick EZ. Infant affective reactions to the resumption of maternal interaction after the still-face. Child Development (1996); 67: 905-914.
[12] Maslow AH. A theory of human motivation. Psychological Review (1943); 50: 370-396.
[13] Maslow AH. Motivation and Personality (1954).  New York: Harper.
[14] Hagerty MR. Testing Maslow’s hierarchy of needs: National quality-of-life across time.Social Indicators Research (1999); 46: 249-271.
[15] Gratton LC. Analysis of Maslow’s need hierarchy with three social class groups. Social Indicators Research (1980); 7: 463-476.
[16] Montague A & Matson F. The Human Connection (1979). New York: McGraw-Hill.
[17] Sigal JJ, Perry JC, Rossignol M, & Ouimet MC. Unwanted infants: Psychological and physical consequences of inadequate orphanage care 50 years later. American Journal of Orthopsychiatry (2003); 73: 3-12.
[18] Montague & Matson (1979).
[19] Bowlby J. Maternal care and mental health. World Health Organization (1951).
[20] Robertson J. Some responses of young children to loss of maternal care. Nursing Times (1953); 49: 382-386.

O TOQUE
Por Tracy G. Cassels, 20 de setembro de 2011.


Tradução de Andréia C. K. Mortensen

“O toque é 10 vezes mais efetivo do que contato verbal ou emocional, e afeta praticamente tudo que fazemos. Nenhum outro sentido o afeta tanto como o toque... Estamos nos esquecendo de que o toque não é somente uma necessidade básica para nossa espécie, mas é a chave de nossa existência". - Dr. Tiffany Field


Imagine seu filho brincando feliz da vida no chão quando alguém derruba um livro na cabeça dele e ele então começa a chorar de dor. O que você faria? Ou imagine seu filho brincando na sala quando você vai para outro cômodo da casa para pegar alguma coisa, e você ouve de lá um barulhão vindo fora que o assusta e ele começa a chorar. Então, o que você faria? O que você faz quando seu bebê está sentado no seu colo recebendo vacinações e chora quando a agulha penetra suas perninhas? O que você faz se, no dia seguinte que seu bebê foi vacinado, você tem que ir ao pediatra novamente e seu bebê chora de terror imediatamente ao entrar na sala e/ou a ver o médico?

A maioria das pessoas responderão que pegariam imediatamente seu bebê no colo e o abraçaria, confortaria até acalmá-lo, pois essa é a resposta instintiva. Veja, o toque é nossa maneira primária de oferecer conforto, não somente para aqueles que ainda não se comunicam verbalmente, mas para todos. E porque o toque é tal forma primária de comunicação, nós evoluímos para esperar o toque, e muitos! Infelizmente parece que perdemos essa noção tão importante na sociedade atual em que o toque tem sido visto como potencialmente negativo, e portanto evitado, por causa dos aspectos reais e terríveis do toque não solicitado (forçado). Mas até essas experiências indesejáveis servem para mostrar o efeito real que o toque tem no nosso bem-estar emocional. Enquanto que o toque indesejável tem o poder de mutilar o bem-estar do indivíduo, o toque querido (e necessário) tem o poder curar.

Na lição número dois, sobre necessidades- conversamos sobre as necessidades sociais, psicológicas e emocionais dos bebês e como atendê-las é importante para o desenvolvimento do bebê assim como atender suas necessidades físicas.
E o que faz as necessidades sociais, psicológicas e emocionais tão importantes é o TOQUE; é o conforto que se dá aos nossos filhos que não é cognitivo, visual e nem mesmo vocal (embora esses tenham um papel ao confortar o bebê). Mas é sim TÁTIL.  Nessa lição, espero esboçar as inumeráveis maneiras em que o toque afeta nossas vidas e porque qualquer conselho que promova uma redução no toque não serve absolutamente para ajudar aos nossos filhos.


Toque como Comunicação

Alguém se lembra da música ‘More Than Words’ da banda Extreme dos anos 90?  Aqui a letra da música:
Saying I love you-
Is not the words I want to hear from you
It’s not that I want you
Not to say, but if you only knew
How easy it would be to show me how you feel
More than words is all you have to do to make it real
Then you wouldn’t have to say that you love me
Cos I’d already know
What would you do if my heart was torn in two
More than words to show you feel
That your love for me is real
What would you say if I took those words away
Then you couldn’t make things new
Just by saying I love you
More than words
Now I’ve tried to talk to you and make you understand
All you have to do is close your eyes
And just reach out your hands and touch me
Hold me close don’t ever let me go
More than words is all I ever needed you to show
Then you wouldn’t have to say that you love me
Cos I’d already know
What would you do if my heart was torn in two
More than words to show you feel
That your love for me is real
What would you say if I took those words away
Then you couldn’t make things new
Just by saying I love you
More than words


Tradução:

Dizer "eu te amo"
Não são as palavras que quero ouvir de você
Não é que eu não queira que você diga
Mas se você apenas soubesse
Como seria fácil mostrar-me como você se sente
Mais do que palavras
É tudo o que você tem que fazer para tornar isso real
Então você não precisaria dizer
Que você me ama porque eu já saberia
O que você faria se meu coração se partisse em dois?
Mais do que palavras para mostrar que você sente
Que o seu amor por mim é real
O que você diria se eu jogasse aquelas palavras fora?
Então você não poderia renovar as coisas
Apenas dizendo "eu te amo"
Mais do que palavras
Agora que tentei
Falar com você e fazer você entender
Tudo o que você tem que fazer é
Fechar seus olhos e só estender suas mãos
E me tocar, me abraçar apertado
Não me deixa nunca ir embora
Mais que palavras
É tudo o que eu sempre precisei que você mostrasse
Então você não precisaria dizer
Que me ama porque eu já saberia
O que você faria se meu coração se partisse em dois?
Mais do que palavras para mostrar o que você sente
Que o seu amor por mim é real
O que você diria se eu jogasse aquelas palavras fora?
Então você não poderia renovar as coisas
Apenas dizendo "eu te amo"



Quando essa música foi lançada, me lembro de tê-la odiado, achei muito cliché ‘não me diga que me ama, me mostre’. Ainda assim, aqui estou, 15 anos mais tarde, percebendo um sentimento bonito e acurado nessa canção (mesmo que não tivesse sido intencional). Quero focalizar nessas 2 frases por um momento: Tudo o que você tem que fazer é fechar seus olhos e estender suas mãos e me tocar. Realmente, isso é exatamente o que nossos filhos esperam que façamos para lhe mostrar amor, e, mesmo que o façamos num certo nível com nossos filhos, qual foi a última vez que você conscientemente usou o toque como maneira de se comunicar com um adulto?

Pois é, até falamos para as pessoas que as amamos, mas frequentemente não lhe demonstramos, embora seja através do toque que sempre nos sentimos amados quando as palavras não são suficientes.

Com um toque nós comunicamos uma série de emoções- amor, raiva, indiferença, inveja, medo- e por causa da natureza do sentido do tato, nós conseguimos perceber nuances que palavras simplesmente não podem mostrar. Estamos tão focalizados em palavras como meio de expressão que esquecemos que o toque não é somente a forma mais antiga de comunicação (e a primeira a se desenvolver no útero materno), mas, como humanos, nossa forma mais abrangente [1][2].  Nossa pele cobre nosso corpo inteiro, cada centímetro quadrado tem nervos que transmitem informações ao cérebro. Isto significa que realmente não há como captar mais informações em qualquer outro sentido que não pelo tato.

Vamos pensar agora na perspectiva de um bebê. Quando nasce, o bebê quase não enxerga nada e não entende a linguagem falada, mas consegue cheirar e quase que certo que pode sentir. Então, dizer ao bebê que o ama não lhe transmite muita informação; então se você passar horas do dia conversando com seu bebê, confessando seu amor, mas evitando de tocá-lo, seu bebê crescerá praticamente tão prejudicado como aqueles que discutimos na Lição 2. E realmente, um conhecido psicólogo e etiólogo, Konrad Lorenz, teorizou que entre os atributos físicos que fazem dos bebês essas gracinhas que são, tem sua pele, que é macia e aveludada para facilitar muitos toques, o que nos faz querer cuidar deles e assegurar sua sobrevivência [3].

Por que um bebê precisaria disso? Uma das principais razões é que o toque ajuda os bebês a se regular fisiologicamente. Isto é, o toque pode servir para controlar estados de excitação (incluíndo vigília, sonolência, batimentos cardíacos e temperatura) [4][5] e pode também servir para acalmá-los, o que inclue redução na taxa de cortisol e β-endorfinas, hormônios associados com resposta ao estresse [6]. Vale a pena notar também que, apesar de geralmente combinarmos o toque com outros sentidos para acalmar um bebê, as pesquisas mostram que somente o toque sozinho pode ser efetivo [7] enquanto que outras modalidades não são regularmente efetivas nesse sentido.

Mas, as funções comunicativas do toque vão muito além das fisiológicas. Em uma revisão científica, Matthew Hertenstein da Universidade da California, Berkeley, explica que o toque pode comunicar uma vasta extensão de informações emocionais, incluindo emoções positivas, negativas e discretas [8]. E isso não é somente quanto a fatos extremos; por exemplo, quando se testou reações dos bebês a emoções negativas, o tipo de toque usado foi simplesmente estático, neutro ou cruel[9]. Além disso, outras pesquisas mostram que mães depressivas interagem de diferentes maneiras com seus bebês, passando a eles informações sobre seus estados negativos, resultando num bebê que também experiencia as emoções negativas [10].

Resumindo, para adultos e particularmente para bebês, o toque continua a ser (um dos) mais importantes sentidos que temos e que nos permite comunicar não somente estados físicos, mas emocionais também. Para bebês que não tem formas mais avançadas de comunicação, como a linguagem falada, é essencial entendermos como nosso toque, ou a falta de, está diariamente transmitindo ao bebê informações essenciais.


Toque pode salvar e custar vidas

Acho que já discutimos bastante sobre isso na Lição 2, mas irei resumir aqui também. Nosso entendimento mais importante dos efeitos da falta de toque nos bebês humanos vem de observações (e então intervenções) dos problemas de crianças criadas em orfanatos e instituições em que, até recentemente, somente as necessidades físicas básicas eram atendidas, mas as emocionais e psicológicas (predominantemente baseadas no toque) eram excluídas, ignoradas.

Os efeitos nos bebês desse ambiente foram catastróficos, aproximadamente 90% de mortalidade infantil e problemas sociais e de comportamento graves naqueles que conseguiram sobreviver [11][12]. Até mais tarde na vida, os adultos que foram criados nessas instituições mostraram efeitos deletérios, como doenças crônicas e disfunções psicológicas [13].  Entretanto, quando as coisas são sombrias assim, geralmente há o outro lado da moeda, que nesse caso é o fato de que o oposto é verdadeiro também ou seja, providenciar toque positivo aos que estão em risco pode melhorar drasticamente sua situação.


Muitos de nós já ouvimos histórias de bebês prematuros que tiveram chance nula de sobrevivência, e foram então postos nos braços da mãe para falecer, mas então viveram [14]. Para aqueles que entendem a importância do toque, esses casos comprovam o que que já acreditamos, mas para os céticos esses casos não possam de anomalias, ou milagres. Ainda bem que para nós que acreditamos, as pesquisas científicas demonstraram experimentalmente o efeito do toque nos bebês prematuros e de baixo peso ao nascer, ao colocá-los randomicamente em dois modelos de cuidado: ou no modelo de cuidado padrão de hospitais ou no cuidado pele-a-pele com um cuidador (também chamado de método Canguru).  O que se descobriu foi que os bebês que receberam o cuidado do método Canguru tiveram menores taxas de infecção [15], menos dor em certos procedimentos [16], melhores taxas de amamentação exclusiva (que todos sabemos ter outros benefícios a saúde)[17], melhor ganho de peso [17], um estatus neurocomportamental mais maduro [18], e redução no tempo de hospitalização [15][17]. 

Preciso mesmo dizer mais sobre os efeitos vitais e poderosos de cura do toque?


Toque constrói vínculos

Alguns de vocês especialistas pelo menos falam da importância de abraçar e beijar seu filho quando não estão angustiados, ou seja, interagir com eles positivamente quando estão felizes, brincando. Esse tipo de interação não é um substituto para a resposta ao estresse (que já comentarei), mas pelo menos vocês entendem o poder do toque para construção do vínculo e para promoção de bons relacionamentos entre pai e filho.
Mas, há alguns de vocês que promovem esquemas de horários tão rígidos que eu só posso supor que vocês não conseguem compreender a necessidade vital para pais e bebês de tocar um ao outro regularmente e espontaneamente se eles quiserem construir um relacionamento saudável.


Como mencionado antes, a nível fisiológico, o toque reduz resposta ao estresse nos bebês [6][19],  mas também afeta a maneira que nós nos comportamos e interagimos uns com os outros. Por exemplo, crianças que tem pais que respondem mais prontamente ao estresse deles demonstraram mais empatia [20] e eram mais sociáveis [21].  O toque também governa nosso bem estar emotional, quanto mais toques positivos, maior a satisfação, felicidade e bem estar em geral [2][22].  Estudos experimentais também sugerem quanto o toque tem influência nas percepções que temos dos outros e em nossas interações, até na mais begnina das interações. Em um estudo, cartões de biblioteca foram devolvidos aos participantes, onde metade deles receberam um breve toque da bibliotecária (ela tocou a mão da outra pessoa ao retornar o cartão), enquanto que a outra metade não recebeu nenhum toque. Os participantes que foram tocados relataram visões mais favoráveis da biblioteca do que os que não foram tocados em suas mãos, mesmo que os participantes que tinha sido tocados não se lembravam disso [23].  Em outro estudo, descobriu-se que ser tocado por uma enfermeira no dia anterior a uma cirurgia diminuiu o estresse do paciente, e esse estresse foi medido de forma fisiológica pelos batimentos cardíacos e pressão arterial e também medido através da subjetividade do paciente [24].

Em termos de formação de relações e vínculos, sabemos o efeito do contato de pele com pele na liberação de ocitocina, o hormônio do “amor”, que facilita o vínculo e sentimentos de afeição[25].

E é por isso que bebês recém nascidos são colocados (ou deveriam ser!) no peito da mãe logo após o nascimento (quando possível) e porque o contato de pele a pele é tão poderoso para acalmar os bebês.

Nas relações entre adultos as mesmas premissas são verdadeiras: casais que relatam maiores níveis de toque- como segurar mãos, beijar, abraçar- também relatam maior nível de satisfação [26]. Claro, é possível que pessoas que estejam em melhores relacionamentos estejam mais aptos a tocar um ao outro, entretanto, as pesquisas que investigam os níveis de ocitocina e a frequência do toque sugerem que há uma relação entre causa e efeito. Por exemplo, mulheres que relatam ter recebido mais contato físico de seus companheiros no passado também tiveram maiores níveis de ocitocina e menor pressão arterial (um indicador de estresse) que mulheres que relatam menos contato físico [27].

Seja pelo papel da ocitocina ou por outro mecanismo, é fato que o toque positivo nos afeta positivamente. Bebês não são diferentes, sem dúvida que os efeitos do toque são muito relevantes a eles. Na verdade, bebês precisam e pedem toque, contato corporal, para formarem relacionamentos. Dr. Tiffany Field, uma das pesquisadoras mais proeminentes na área do toque, descobriu que bebês que tiveram reforço do toque (em contraste com bebês que só ouviram a voz de suas mães e viram seu rosto), sorriram mais, vocalizaram mais e choraram menos [28]. 

Além disso, o toque na infância tem efeitos a longo prazo: bebês que receberam pouco toque tem frequentemente problemas de contato físico e de formarem relações significativas quando adultos [1]. O toque ajuda então na formação de relacionamentos positivos e duradouros, mas até uma quantidade pequena de contato físico pode nos ajudar a acalmarmos e a sermos mais felizes.




Agressão e Toque

Na lição 2 aprendemos sobre os macacos de Harlow, mas gostaria de discutir além aqui, que aqueles macacos que foram privados de toque, mesmo com a preferência da mãe de pano, eram incrivelmente agressivos e anti-sociais. Em alguns casos, cuidar do macaquinho com carinho era suficiente para acalmá-los e socializá-los um pouco, mas a grande maioria deles tiveram que permanecer isolados [29]. É claro que esse nível de privação de contato físico não é normal na nossa sociedade nem é tolerado por ninguém, mas o que as pesquisas sugerem é que há uma relação LINEAR entre agressão e frequência de toque positivo. Numa série de estudos inter-culturais, Dr. Field investigou a quantia de toque e agressão em crianças entre 3-6 anos e adolescentes nos EUA e na França. Em todos os casos, ela descobriu que o toque positivo com maior frequência em todas as idades estava associado com diminuição nas tendências de agressão e violência [30][31][32].  É interessante notar que ela também descobriu que adolescentes que tiveram menos toque físico usaram mais comportamentos de auto-estimulação- como consumir bebidas alcóolicas e drogas ilícitas—que ela acreditou ser a resposta a falta de toque. Como seria isso? Bem, o toque estimula o indivíduo e aumenta seu nível de ocitocina (uma ‘droga natural’ digamos assim), e então a falta de toque resulta em indivíduos que ficam tentando achar o mesmo sentimento de bem-estar que esse toque induz, em outras coisas. Mas, como todas as formas de auto-medicação, é raramente eficaz e é geralmente prejudicial.



Mesmo sem as pesquisas, podemos analisar nosso passado na História e ver os efeitos do toque negativo e agressão. Um estudo antropológico de 49 sociedades nos anos 70 separou as sociedades entre aqueles que tiveram bastante toque e aqueles que receberam mínimo contato físico. Este estudo revelou comportamentos muito diferentes nos adultos dessas sociedades[33]. Naquelas sociedades em que bebês cresceram cheios de toque e afeto, comportamentos comuns entre os adultos foram: baixo nível de exibições injustas de riqueza, baixas taxas de roubos, atividade religiosa baixa, e taxa insignificante de homicídio/tortura/mutilação. Já nas sociedades em que a dor ou indiferença foram os estados normais experimentados regularmente pelos bebês e crianças, foram observados nos adultos: escravidão, poligamia, estatus social inferior das mulheres, e deuses religiosos agressivos. Isto tudo além dos níveis já altos de agressão e violência da sociedade em questão.

Analisando além, parece que as sociedades tinham ao menos uma consciência implícita dos efeitos do toque na agressão. Mesmo nos tempos remotos dos espartanos (e talvez mais cedo ainda) as sociedades em Guerra retiravam as crianças bem jovens (na Esparta por volta dos 7 anos de idade) da casa de seus pais para treiná-los a serem guerreiros. Claro que este treinamento não incluía beijos e abraços, mas era severo e brutal [34]. Até hoje vemos comportamentos similares nas regiões que vivem em Guerra no desenvolvimento de soldados infantis. Crianças são retiradas de suas casas para um local que não tenham cuidadores amorosos e carinhosos, recebendo pouco ou nenhum toque, justamente com a intenção de criar assassinos insensíveis (por exemplo, as inúmeras histórias de soldados mirins em áreas africanas como no Congo).

Há muitos fatores que afetam a presença e o nível de comportamentos anti-sociais e agressivos em crianças e adultos, mas não há sombra de dúvida de que a falta de toque tem um papel importante. Vale a pena comentar aqui também que há uma relação entre as formas negativas de toque e comportamentos problemáticos, como poderíamos prever. Em um estudo, descobriu-se que o toque duro, severo (agressões físicas) na infância está associado a problemas emocionais e comportamentais mais tarde na vida [35]. Este é um dado importantíssimo que deve ser lembrado já que o toque que não conforta ou não é gentil pode provocar prejuízo a longo prazo.


Como tudo isso se encaixa nos conselhos dos ‘especialistas’?


Como mencionei no começo do artigo, alguns de vocês parecem entender a importância do toque e da interação física durante o dia (mesmo que proibem isso durante a noite). Outros, nem tanto. Então, espero que com esse artigo eu tenha deixado claro que ambas visões estão na verdade promovendo um desserviço as crianças.


Primeiro, há uma razão lógica para os bebês simplesmente não entenderem os limites entre dia e noite. Quando se dorme 18-20 horas por dia (como a maioria dos recém nascidos o faz), sono é sono; além disso, se vocês estão dizendo aos pais para não pegá-los no colo quando eles choram na hora de dormir, o tempo total que o bebê fica sem toque é imenso. Isso significa que você estará ignorando as necessidades do bebê por mais do que na metade do tempo. Então vamos ser honestos sobre isso– toque não é discriminatório e crianças precisam dele TODAS as horas do dia. Indo além, me deixe lhe perguntar … Qual é a dose suficiente de toque? Quanto uma mãe ou um pai precisa dar contato físico para o bebê durante o dia para “compensar” a falta de toque durante a noite ou durante o sono? Porque nas sociedades ocidentais, nossos bebês novinhos são tocados por humanos aproximadamente 12-20% do tempo, e os bebês maiorzinhos (ainda menores de 1 ano), por somente menos de 10% do tempo! [36]. Vocês realmente acham isso suficiente? Para mim parece que estamos vacilando na zona extrema discutida na Lição 2, e eu não ficaria surpresa de descobrir que isso é justamente um dos fatores que contribuem para a taxa de agressão na infância e desordens psicológicas que só aumenta [44].

Segundo, alguns de vocês especialistas vão argumentar que se vocês sugerem ficar no mesmo local que o bebê enquanto ele chora para confortá-lo, mas não permitem contato físico (por exemplo, colocar o bebê no berço para que pegue no sono sozinho e a mãe pode ficar lá do lado, mas não pode pegar no colo se chorar). Espero que esse artigo lhes faço claro que essa situação é longe do ideal da perspectiva do bebê. Além disso, como discutido na Lição 2, quando revisei os dados do paradigma da Face parada, bebês que vêem seus pais mas não recebem uma resposta deles tiveram maiores níveis de estresse. Então, essa idéia de confortar o bebê somente com sua presença é ridícula e contrária ao que sabemos sobre as respostas naturais dos bebês nessas situações.

Terceiro, pesquisas tem mostrado que vínculo é construído em cima de constância. Então, constância de toque e constância de resposta para as necessidades do bebê são críticos para estabelecer um vínculo seguro entre você e seu bebê [37]. Deixar de oferecer apoio, primariamente na forma de toque, durante a noite que é uma hora de estresse para o bebê, simplesmente só traz confusão. O bebê vê que a mamãe âs vezes está por perto e âs vezes não está. E agora, então, o que eu faço?- o bebê pensa. Mesmo sendo tão inteligentes como são, é exigir demais do bebê que ele tente entender algo que simplesmente não é capaz. Do mesmo modo, alguns dos piores resultados psicológicos vem de crianças que foram abusadas de modo inconsistente—elas não sabiam o que esperar, se afeição ou agressão, e isso acaba fazendo com que a criança fique em estado de alto alerta o tempo todo, o que é prejudicial em muitos aspectos [38]. Além disso, há outras pesquisas que sugerem que bebês tem uma memória para o toque físico que receberam e então as lacunas de toque noturno são realmente lembrados a longo prazo [39][40][41].


Finalmente, há pesquisas emergentes que sugerem que os abraços e beijos que damos aos nossos filhos durante o dia tem pouco efeito em como eles percebem sua segurança, ou nossa capacidade de fazê-los sentirem-se seguros. Afinal, costumamos pensar em criação dos filhos como uma construção unitária em que qualquer parte da criação teria efeitos comuns. O que os pesquisadores Joan Grusec e Maayan Davidov propõem, entretanto, é que estamos equivocados ao pensar em criação como uma construção unitária [42]. Revisando uma série de trabalhos sobre criação, eles chegaram a conclusão de que a socialização das crianças é realmente feita de domínios, e então problemas em uma área afetariam os resultados associados com essa área em particular, mas não em outras. No caso do toque, interação, abraços e beijos durante o dia seriam uma parte do domínio de ‘reciprocidade’ em que o pai e a criança interagem como semelhantes de maneira positiva e agradável, o que é diferente do domínio de ‘proteção’ onde as crianças esperam que nos preocupemos e cuidemos delas e as respondemos conforme estejam angustiadas, ansiosas. Há evidências para esse tipo particular de distinção onde pesquisas mostram que quanto mais disponíveis os pais estão a atender um bebê aos 6 meses menos problemas comportamentais e mais sociáveis as crianças serão, mas a sensibilidade a criança em situações de não-estresse (isto é, quando estão brincando, abraçando e curtindo, sem choros envolvidos), não teve esse poder a longo prazo[43]. Então, enquanto que ‘proibir’ o contato físico a noite para confortar o bebê pode não resultar em problemas comuns nas crianças, é muito provável que tenha efeito em áreas importantes de funcionamento social e emotivo.

Resumindo, o toque é inacreditavelmente poderoso e pode ser usado para curar ou para ferir. Mas, igualmente importante é entender que os vários tipos de toques que afetam nossos filhos, até os positivos, não são intercambiáveis, ou seja, duas coisas diferentes não podem ser usadas alternadamente com o mesmo propósito sem o que o resultado seja prejudicado. O abraço que acalma uma criança angustiada é qualitativamente diferente daquele abraço durante as brincadeiras diárias. Nossos filhos precisam desses diferentes tipos de toques se quisermos que elas prosperem.

E eu sei, você provavelmente me dirá que, se sempre os tocarmos e os ajudarmos a se acalmar, eles nunca aprenderão a se auto-confortar… Bem, adivinha sobre o que será a Lição número 4?  Isso mesmo: sobre auto-conforto.


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AUTO-CONFORTO
Publicado em 01 de novembro de 2011, por Tracy G. Cassels.

O que uma criança não recebe na infância raramente conseguirá oferecer na vida adulta”
- P.D. James

Eu absolutamente adoro a frase acima de P.D. James, pois destaca muito bem os problemas tão esquecidos no nosso mundo atual em relação a criação de filhos. É tão frequente que se empurre as crianças para serem independentes, que parece acreditar-se que a única maneira delas alcançarem a independência é forçá-las a tal. Se não os colocarmos de pé, como eles aprenderão a ficarem de pé sozinhos?

E a maior pressão de todas é para que as crianças regulem suas próprias emoções—ou se auto-confortem, como preferirem.

Vocês "especialistas" nos dizem que, se não deixarmos nossos bebês chorarem sozinhos e se acalmarem, eles nunca aprenderão a se acalmarem. E então o que vemos são muitos pais que acreditam nessa "profecia" e embarcam nessas práticas que prejudicam não somente seus bebês, mas seus pais também. Sim, porque o próprio processo de escutar seu bebê chorando, em prantos, sozinho, é tão duro, que a maneira que os pais lidam com isso é geralmente clamando por aí que eles estão agindo corretamente e que esta é a maneira de ensinar seu filho a se auto-consolar.  Mas, na verdade, o que vocês estão dizendo ao divulgar esse conselho simplesmente não é verdadeiro. Este conselho de deixar o bebê chorando sem consolo para seu próprio bem se apoia numa mentira, e isso TEM que parar.


Nada ou afunda?

O argumento do auto-conforto sempre me lembra do ditado “nade ou afunde” exceto que, nesse caso, seria “chore ou se conforte sozinho”.  Ambos argumentos são igualmente ridículos. Se você pensar com calma, o argumento "nade ou afunde" só é aplicável a quem já sabe nadar, porque alguém que não sabe nadar irá afundar toda vez que for jogado na piscina. Aprender a regular suas próprias emoções não é diferente. A menos que você já aprendeu como fazê-lo, você falhará, e é por isso que seus conselhos aos pais, propondo que lhes "ensinem" seus filhos usando estes métodos não são apenas dolorosos à família, mas não ajudam a criança a longo prazo.

Neste artigo revisaremos as evidências, as teorias e as repercussões a longo prazo do que vocês estão fazendo ao divulgar essas ‘desinformações’.

Evidências a favor do choro para auto-conforto

Devo começar mostrando evidências que alguns de vocês citam em favor dessas técnicas para ensinar regulação de emoções (eu digo “alguns” porque muitos de vocês nem se importam em citar evidências científicas para fundamentar seus argumentos, infelizmente). Thomas Anders, da Universidade da California, é um pesquisador na área de sono de bebês. Ele investigou fatores que levam ao bebê se auto-acalmar, com relação ao sono, no primeiro ano de vida. Muitas de suas pesquisas não suportam o choro sem consolo para aprender a se confortar sozinho (por exemplo, veja [1]), mas infelizmente uma parte de suas pesquisas tem sido usada dessa forma. Em um estudo que visava identificar fatores que poderiam prever a capacidade de auto-conforto no primeiro ano (adormecer sozinho, sem ajuda) ele descobriu que aumentar o tempo de resposta ao bebê (não responder ao choro imediatamente, mas esperar tempos maiores e maiores) após seu despertar aos 3 meses foi um preditor significativo de auto-conforto aos 12 meses [2].  Além desse trabalho de Anders, Karyn France da Universidade de Canterbury na Nova Zelândia examinou o uso de drogas e técnicas comportamentais para tratar de “distúrbios de sonos de bebês” (eu reluto demais com essa expressão já que implica que bebês deveriam dormir a noite toda, o que é ridículo por si só- para mais informações, veja o artigo ‘Expectativas sobre bebês- parte 1 de 2-


Ela descobriu que os bebês de pais que os ignoravam sistematicamente (isto é, usavam o método choro) tinham mais sucesso em conseguirem que elas dormissem e parassem de chorar, e isso sugere que o sucesso vinha do fato que o bebê aprendia a se auto-confortar (refs. [3][4][5]).

Qual é o problema com essa pesquisa?  O principal método de acessar o “auto-conforto” foi simplesmente o método de extinção do choro. Na lição um (Educando os especialistas- por que o bebê chora? Razões científicas porque treinamentos de sono não são recomendados-
 conversamos sobre o que significa o cessar do choro e como há outras explicações para o fato do bebê parar de chorar não ter nada a ver com ele ter aprendido a se auto-confortar. A mesma lição se aplica aqui, já que os bebês que pararam de chorar podem simplesmente estar tentando não desperdiçarem energia, e não que aprenderam a se confortarem sozinhos.

Então como podemos examinar o auto-conforto?  Temos que olhar para os comportamentos do bebê que PRECEDEM e que previnem-os de se frustarem ou chorarem, então assim saberemos que o comportamento está na verdade ajudando-os a evitarem o estado negativo de emoções (choro). Pode-se também medir os comportamentos dos pais e então examinar os comportamentos de auto-conforto da criança (ou regulação de emoções, como é chamado mais tarde em crianças mais velhas e adultas).  Felizmente pesquisadores tem feito justamente isso. Mas, antes de discutir isso, quero comentar algumas das teorias que explicariam a falácia do modelo “nade ou afunde”.


Aprendizado por observação, aprendizado guiado e neurônios espelho


A pergunta que temos que fazer a nós mesmos é: como as crianças aprendem? Se o método do "nada ou afunda" fosse bem-sucedido, nós nunca teríamos que ajudar nossos filhos em suas jornadas para entender nada. Mas o fato é que precisamos ajudá-los sim!




Algumas pessoas podem argumentar que nós não estamos ensinando nossos filhos tanto assim- como por exemplo no processo de andar - e eles estão certos. Mas, isso não significa que não estamos ensinando-os nada. Em 1961, um professor chamado Albert Bandura da Universidade Stanford empreendeu uma série de experimentos incríveis, atualmente chamados de ‘Experimentos do boneco Bobo’ (um boneco gigante inflável).  Ele dividiu crianças entre 3-5 anos em grupos e os colocou para observarem um adulto interagir, de modo agressivo ou não, com esse boneco. Ele descobriu que as crianças que testemunharam um adulto agindo agressivamente (dando pancadas no boneco) tinham mais chances de agirem agressivamente também, mesmo que o comportamento não tivesse sido explicitamente ensinado a criança [6].
Esse vídeo é impressionante: 



Esses resultados suportam a “Teoria do Aprendizado Social”, uma teoria psicológica que afirma que a aprendizagem social ocorre por imitação até que os conceitos aprendidos sejam internalizados e completamente entendidos [7].  Então, quando se fala de auto-conforto, não precisamos ensinar os bebês explicitamente a como se confortarem, mas simplesmente modelar o comportamento para eles. Em alguns casos, fazemos justamente isso quando os acalmamos, mas esse tipo de aprendizado requer uma maturidade que somente uma criança mais velha que possa entender o comportamento em várias nuances que o auto-conforto pode incluir.

Isto nos leva ao que é chamado de "aprendizado andaime" ou "aprendizado guiado".  Além de simplesmente modelarmos o comportamento, o aprendizado guiado significa que estamos mostrando as crianças os comportamentos de interesse e ajudando-os a aprender como se virariam por si mesmos. Alguns pesquisadores acreditam que, quando os pais confortam seus bebês, eles estão modelando o comportamento que as crianças devem seguir para se confortarem a si mesmos [8][9].  De fato, eles argumentam que é assim que as crianças eventualmente aprendem a se confortarem sozinhas de uma maneira saudável. Mas por que, então, que isso não é internalizado nos primeiros meses? Afinal de contas, muitos de vocês especialistas argumentariam que recomendam aos pais que não deixem seus bebês chorando por um período de tempo, ou que ofereçam conforto durante o dia (enquanto que a noite seria a fase de não oferecer conforto). E então, esses períodos não seriam suficientes para modelar o comportamento para os bebês?  Para responder isso, precisamos examinar o trabalho de Lev Vygotsky.  Além de seu trabalho decisivo e fundamental sobre psicologia e cultura, Vygotsky criou o termo “zona de desenvolvimento proximal” que se refere ao que a criança é capaz de fazer sozinha e ao que ela é capaz de fazer com ajuda [10].  Isto é fundamental, já que tentar ensinar a criança alguma coisa fora de sua zona de desenvolvimento proximal significa que a criança não a aprenderá de jeito nenhum. 

Regular as emoções é uma tarefa complexa e difícil, e é algo que muito provavelmente está longe do alcance de bebês novinhos. Crianças levam tempo para aprender a regular suas próprias emoções, e esse aprendizado ocorre em diferentes épocas para diferentes tipos de regulações. Nesse meio tempo, a aprendizagem guiada sugeriria que nós continuemos a modelar o comportamento, ao responder aos choros dos bebês, então eles poderiam aprender a fazerem por si mesmos.

Esperar que eles aprendam isso muito cedo significa que eles não somente não irão aprender, mas que também podem nunca mais aprender apropriadamente se pararmos de modelar o comportamento a eles.

Finalmente, "neurônios espelho" merecem alguma discussão aqui. Para quem não está ciente do termo, neurônios espelho se referem a neurônios no cérebro que disparam tanto quando um animal realiza um determinado ato, como quando observa outro animal (normalmente da mesma espécie) a fazer o mesmo ato. Desta forma, o neurônio imita o comportamento de outro animal como se estivesse ele próprio a realizar essa ação [11].  Eles já foram identificados em primatas e acredita-se existirem em humanos, mas até agora foram limitados a atos físicos [12]; entretanto, há hipóteses de que desempenham papéis em vários tipos de funções psicológicas, particularmente na teoria da mente (a habilidade de entender os estados mentais e emocionais dos outros)[13][14].  É bem possível que bebês utilizem neurônios espelho para aprender sobre comportamento e regulação de emoções. Mais importante ainda é que isso significaria que eles precisam testemunhar os fatos (como descritos nas teorias de aprendizado social e aprendizado guiado) para que áreas apropriadas do cérebro incorporem aquela informação para ser utilizada quando necessária. Sem esse estímulo seria irracional assumir que neurônios espelho aprenderiam o que eles deveriam aprender; afinal de contas, os pesquisadores que trabalham com neurônios espelho acreditam que eles são a chave para nossa habilidade de imitar [15], e imitação é necessária para quase todos os tipos de aprendizado.


Evidências contra a Hipótese de deixar chorar para desenvolver o auto-conforto


Evidências que responder positivamente ao filho ajuda a regulação de emoções vêm de pesquisas feitas em várias idades. Pesquisadores da Universidade de Oregon trabalharam com a primeira infância, examinando comportamentos que evidenciariam atos de auto-conforto (isto é, aqueles que ajudam a criança a evitar estados emocionais negativos) e descobriram que há várias manifestações de auto-regulação em bebês de 3 a 13,5 meses de idade. Estes atos incluiam alguns que bebês são capazes de fazerem por si mesmos (como arquear as costas para evitar estímulos negativos), mas muitos envolviam o bebê usando sua mãe como ‘tampão’ para ajudar a evitar emoções negativas [16].  Isto sugere que, durante esse período inicial de aprendizado sobre auto-regulação de emoções, bebês tem ciência de suas próprias limitações e são capazes de solicitarem ajuda para regular a negatividade.

Mais importante ainda, essas pesquisas foram feitas durante o dia e usaram uma variedade de comportamentos e jogos para induzir negatividade em bebês. Por isso, não contaram com o parâmetro usual  de "bebê parou de chorar e adormeceu" como parâmetro de auto-conforto. Isto também sugere que crianças que pedem ajuda quando aflitos precisam dessa ajuda, como os bebês que conseguiram regular suas emoções o fizeram neste estudo; é fato que nenhuma criança foi capaz de se auto-confortar durante TODAS as condições apresentadas a eles- todas precisaram de ajuda. Então, ignorar os pedidos de ajuda do seu bebê não resulta em bebês que se auto-confortam mais rapidamente- eles lidam com a situação da melhor maneira que podem-  mas simplesmente serve como evidência que o pai ou mãe não está lá para ajudá-lo quando eles solicitam.


Como discutido no meu post "Meu bebê também chora" (http://www.evolutionaryparenting.com/?p=556), existem também evidências neurobiológicas de que o choro excessivo (que ocorre quando pais deixam seus bebês chorando sem consolo e sem toque) é prejudicial ao cérebro. A pesquisadora Megan Gunnar da Universidade de Minnesota pesquisou e revisou uma ampla variedade de pesquisas sobre esse fenômeno e descobriu que bebês que são deixados chorando sozinhos sem consolo demonstram uma resposta cerebral ao estresse que se desenvolve no que é chamado perfil neurológico “reativo ao estresse” [17].  Esse perfil reativo ao estresse está relacionado a falha de regulação de emoções  na criança mais velha e na vida adulta e não existe em crianças que foram confortadas quando choravam.

Então, as pesquisas neurológicas sugerem que deixar a criança chorando não somente não conduz a um comportamento de auto-conforto, mas também levam a falha no desenvolvimento de técnicas saudáveis de regulação de emoções.

Finalizando, há evidências científicas com crianças mais velhas que demonstram bem o contrário da hipótese do "nade ou afunde". Primeiro, embora não se tratem de evidências conclusivas, choro excessivo (que é o que se espera ver em crianças que foram deixadas chorando sem consolo) tiveram relação com problemas de regulação de emoções mais tarde  na vida [18].  Embora essas pesquisas não tenham relacionado regulação de emoções com sensibilidade maternal, a sensibilidade abrange uma série de comportamentos maternais, sendo que nem todos pertencem a resposta positiva a aflição do bebê. Pertinente a isso, pesquisas que tentaram isolar o calor maternal e a responsividade ao estresse (os dois maiores componentes associados com “sensibilidade maternal”) descobriram que a resposta ao estresse, mas não o calor, previu e regulação emocional em crianças de 6 a 8 anos [19].

Mais pesquisas vêm de um estudo longitudinal examinando comportamentos maternais com bebês de 6 meses e então comportamento das crianças aos 2 e 3 anos de idade [20]. Neste estudo, resposta maternal ao estresse do bebê de 6 meses, mas não resposta ao não-estresse, foi relacionado com predição de regulação de emoção e funcionamento sócio-emocional em ambos 2 e 3 anos de idade. Isso foi particularmente verdadeiro para bebês que foram considerados como temperamentais tanto com 1 quanto com 6 meses de idade. Esta pesquisa destaca as implicações a longo prazo do comportamento dos pais com seu filho, particularmente quando o bebê é "sensível".  Foi muito visível que bebês "sensíveis" tenderam a chorar mais para início de conversa [21] e então entender os efeitos do comportamento dos pais é muito significativo para essas crianças. 


Finalmente, em uma revisão maravilhosa sobre os efeitos da regulação de emoções, Judy Cassidy da Universidade de Estado de Pensilvânia revisou as pesquisas sobre "attachment parenting" e regulação de emoções e descobriu que bebês que tem pais que se envolvem em práticas que promovem vínculos seguros, particularmente a resposta ao choro, tem filhos que demonstram melhor regulação de emoções que os que tiveram vínculos inseguros [22].

Em resumo, há uma grande gama de pesquisas científicas, ambas nos campos da neurologia e da psicologia, que demonstram a importância de se responder aos choros das crianças para facilitar a regulação de suas emoções. A idéia de que o bebê aprenda a se auto-confortar sem ser exposto a comportamentos de conforto de adultos é simplesmente falsa. Bebês são "típicos afundadores" que não conseguem nadar se não os ensinarmos.


Conclusões

É de importância crítica ensinar apropriadamente o seu bebê como regular suas emoções e se auto-confortar. A natureza cíclica de criação (a maneira como criamos nossos filhos tem muito de como fomos criados nós mesmos por nós pais) nos mostram que comportamentos de vínculo e padrões são transmitidos de geração para geração, isto é, crianças tendem a repetir suas experiências [23]. 

Isto significa que pais que não respondem aos choros do bebê na primeira infância terão provavelmente crianças com problemas de regular suas próprias emoções negativas, o que pode contribuir com dificuldades de prover conforto aos seus próprios filhos mais tarde. É um padrão muito difícil de ser quebrado (embora obviamente não seja impossível, já que muitas pessoas que usam meios de criação exemplificados aqui o fazem porque tomaram ciência dos problemas que tinham eram resultados do modo que seus pais lhe criaram). 

Ao promover métodos que resultam em problemas sócio-culturais, vocês "especialistas" estão não somente prejudicando as crianças que passam por dolorosos períodos de choro sem consolo e muito estresse, mas também prejudicam gerações futuras.

Espero que vocês aprendam com essas lições e pelo menos percebam que, mentir aos pais em suas recomendações que ignorem as necessidades de seus bebês não ajuda a ninguém. Os pais merecem ouvir a verdade quando fazem decisões tão importantes sobre como educar seus filhos, eles não podem se basear em mentiras.


Até agora discutimos substancialmente sobre choro (por que o bebê chora, o que leva ao choro, como o toque ajuda, e as mentiras sobre ignorá-lo) e agora começaremos a discutir outro tema que vocês gostam tanto- rotinas. E não somente sobre rotinas gerais que as famílias tendem a fazer (todos nós humanos no final das contas) mas os esquemas rígidos de rotinas que muitos de vocês alegam serem necessários para “ajudar” nossos filhos. Fiquem ligados …


Tradução: Andréia C. K. Mortensen

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HORÁRIOS
Por Tracy G. Cassels

Tradução: Gabriela de O. M. da Silva

Link para o original em inglês:http://www.evolutionaryparenting.com/?p=657

Até agora estivemos nos concentrando na resposta das crianças, que é intrinsecamente ligada às estratégias de deixar chorar, ou de sono. Contudo, vamos tomar um rumo diferente hoje e nos concentrar ao invés disso no conceito de rotinas e horários. A maioria de vocês defende a existência de horários fixos. Alguns podem até ser mais rígidos que outros, mas quase todos dizem que os pais devem instalar uma rotina desde o primeiro dia de vida do bebê, justificando que os bebês e crianças preferem saber o que vai acontecer em seguida.

Como seria de se esperar, não é tão simples assim. Primeiramente, a maior parte das pesquisas a respeito de rotinas e horários (e a falta deles) foi realizada com pais que trabalham em turnos, ou seja, pode haver uma grande interrupção nas rotinas das crianças[1], mas mesmo nesses estudos existem fatores que diminuem os efeitos, como ter um dos pais em casa cuidando do bebê enquanto o outro está no trabalho [2], e isso pode explicar a relação fora dos horários padrão, como o aumento do estresse dos pais [1]. Em segundo lugar, algumas das pesquisas que eu vi sendo citadas foram feitas com crianças que possuem Distúrbios de Autismo, que já se sabe precisarem de rotinas estruturadas para se desenvolver.[3]. Em terceiro lugar, a maioria dos trabalhos foram feitos com crianças mais velhas, quase em idade escolar ou acima disso[1][2], impedindo que se possa generalizar o resultado para recém-nascidos e bebês. Por fim, existem evidências de que horários e rotinas que não deixam espaço para flexibilidade e tempo livre, não ajudam em nada no desenvolvimento socioemocional da criança.[4].

Assim, a ideia de que nossos recém-nascidos precisam de uma rotina não é tão clara quanto vocês gostariam que os pais acreditassem. Eu posso dizer até que não existe nada especificamente ruim em ter horários – a maioria de nós acaba tendo uma rotina natural sem nem mesmo tentar. O foco no caso é em como os componentes dessa rotina que você está implementando podem ter efeitos negativos sobre a saúde e bem-estar dos bebês e mamães.

Horários de sono

Não questiono de forma alguma que os bebês precisam dormir – é por isso que chegam a dormir 20 horas por dia no começo. Eu sei que é exatamente aí que muitos de vocês vão começar a ter dúvidas porque existem vários artigos mencionando os efeitos negativos dos problemas para dormir, incluindo acordadas noturnas, e que hábitos como oferecer conforto vai atrapalhar a criança quanto ao sono (exemplo[5]).

Agora, isso é típico de quem advoga em favor do deixar chorar à noite e trabalhar para fazer com que os bebês passem a dormir a noite toda ainda bem pequenos, apesar do fato de que os seres humanos não foram biologicamente programados para fazer isso (para ler mais sobre os padrões de alimentação dos mamíferos e como isso afeta o sono, veja http://www.evolutionaryparenting.com/?p=601, da Dra. Helen Ball). Na verdade, acordadas noturnas nunca foram parte do Manual de Diagnóstico e Estatísticas sobre Desordens da Saúde Mental [6] pois, apesar de serem inconvenientes para os pais, acordadas noturnas simplesmente não são "problemas" reais. Principalmente nos primeiros anos de vida. 

Mas o que dizer dessas pesquisas que ligam coisas como acordadas noturnas com problemas de comportamento? Deixem-me dizer: problema da terceira variável. Em todas essas pesquisas, os pais que relatavam "problemas de sono" também viam efeitos negativos em seus filhos [7] (o que aumenta quando se usa treinamentos de sono). Em contraste, os pais não referidos na pesquisa (isto é, aqueles que não procuraram ajuda pra o sono dos filhos e não viam isso como um problema), interações positivas entre mãe e bebê estão relacionadas a maiores acordadas noturnas, mas ainda assim essas acordadas não são consideradas problemáticas e não há repercussões comportamentais associadas a elas [8]

Resumindo, as evidências a respeito da noção de "problemas de sono" do bebê são baseadas somente em relatos dos pais e parecem guiadas por expectativas irreais e não biológicas colocadas sobre os bebês (e sobre as mães, das quais se espera que voltem ao trabalho rapidamente após o nascimento, etc, mas isso é um tópico para outro dia). Mas alguns dos seus programas também ditam um sono com hora marcada, com sonecas e sono noturno durando uma certa quantidade de tempo, independente do fato do bebê estar ou não dormindo ainda.

Deixem-me começar perguntando a vocês – como vocês se sentiriam se não estivessem cansados e fossem forçados a deitar na cama (geralmente sozinhos)?Vocês ficariam impacientes e achariam ainda mais difícil adormecer? E se o alarme tocar para acordá-los e vocês estiverem com certeza ainda nada prontos para acordar? Cansados e zonzos pela maior parte do dia (ou pelo menos até tomarem sua xícara de café da manhã)? Mesmo se vocês fossem para a cama em um horário "razoável", se vocês não conseguissem dormir imediatamente por ainda não estarem cansados, acordar 8 horas mais tarde ainda seria ruim, pois vocês teriam provavelmente dormido entre 5 a 6 horas apenas. 

Agora adivinhem? A mesma coisa acontece com os bebês. Forçar um bebê a permanecer acordado quando está cansado, ou ir dormir quando não está é prejudicial para ele e para sua relação com os pais, pois eles acabam tendo em mãos uma criança irritada, chorosa. Eu já falei sobre essa pesquisa antes (Expectativas sobre bebês, parte 1) mas os ciclos de sono-vigília dos bebês demoram um tempo para se desenvolver e você não está beneficiando em nada seu filho ao tentar apressar esse processo. 

Na verdade, existem evidências recentes de que fazer isso pode colocar um bebê em risco de sofrer da Síndrome da Morte Súbita Infantil (SIDS). Em um estudo, apenas breves períodos de sono interrompido foram dados a bebês entre 7 a 18 semanas de vida e as reações cardíacas foram medidas [9]. Os autores descobriram que ao atrasar o sono por 2 horas apenas por uma vez, as respostas cardíacas do bebê durante o sono foram alteradas para padrões que poderiam estar relacionados à Morte Súbita. Um outro trabalho[10] examinou evidências a respeito de uma ligação entre interrupções no sono e a Morte Súbita e apesar de não haver pesquisas que mostrem uma relação causal direta, existem trabalhos demonstrando que interrupções de sono "anormais" (ou seja, não deixar que o bebê acordasse por si) diminui a habilidade de despertar do bebê, o que já foi provado por vários estudos estar relacionado à SIDS. 

Assim, vocês devem ter muito cuidado ao sugerir que os pais acordem seus bebês em horários específicos, ou que deveriam mantê-los acordados até uma certa hora – seja essa hora ditada por um relógio ou outra maneira. Eu não acredito que os pais tenham consciência de que vocês podem estar brincando com a vida dos bebês deles.

Horários de amamentação

Por alguma razão, a noção antiquada de alimentar um bebê a cada 3-4 horas continua a favor de vários de vocês, apesar do fato de não ser mais recomendado fazê-lo por profissionais da área de saúde e consultoras de amamentação. O motivo para essa prática ter caído em desuso foi a descoberta de que ela trazia efeitos nocivos para a amamentação e para a saúde do bebê.

Os efeitos no bebê estão bem documentados. Primeiramente, existe o efeito sobre o ganho de peso, pois bebês amamentados em livre-demanda ganham mais peso do que aqueles amamentados em horários marcados. Um destes estudos examinou o ganho de peso na primeira semana de vida em um grupo bem grande durante uma semana de estadia no hospital após o nascimento. Três grupos foram formados: alimentados a cada 4 horas, alimentados a cada 3 horas e alimentados em livre-demanda, fazendo-se também a comparação entre bebês pequenos, médios e grandes pra levar em conta as diferenças que ocorreriam naturalmente. As descobertas? Como é dito no artigo, "A taxa de ganho é inquestionavelmente maior no grupo de bebês amamentados em livre-demanda" (pág. 99). Em vários casos, os bebês que mamavam à vontade chegaram a ter o ganho de peso mais que dobrado em comparação com os que mamavam a cada 4 horas, e algumas vezes ganho dobrado em comparação com os que mamavam a cada 3 horas. [11]



Um segundo estudo japonês descobriu que amamentação em livre-demanda estava relacionada com menor perda de peso após o nascimento em comparação com os bebês amamentados em horários pré-estabelecidos. [12] Contudo, existe um estudo que sugere não haver diferença entre impor ou não horários para as mamadas. Nesse estudo, nenhuma diferença entre o nascimento e os 6 meses de idade foi percebida entre os dois grupos, mas em ambos a forma principal de alimentação era a fórmula infantil, que possui uma composição bastante diferente do leite materno humano e dessa forma não poderia ser utilizado como base para guiar a amamentação. [13] A saúde do bebê também é afetada pelos horários de amamentação através da redução da passagem do mecônio [12]bem como níveis mais altos de bilirrubina [12][14], o subproduto que resulta em icterícia. Isso significa que bebês que são amamentados em horários pré-estabelecidos têm maior probabilidade de desenvolverem icterícia do que os que são amamentados em livre demanda.

Os efeitos de amamentar com horários marcados se estendem para a díade mãe-bebê, o que pode trazer mais efeitos globais se a mãe for forçada a terminar com essa relação mais cedo, o que significa que o bebê não irá receber os imensos benefícios associados à amamentação (leia mais aqui http://www.evolutionaryparenting.com/?p=232). Na Noruega certas práticas foram instituídas no começo de 1970 com o objetivo de aumentar os números relacionados à amamentação, entre elas o uso da amamentação em livre-demanda, ao contrário de seguir horários marcados, e juntamente com outras práticas, realmente alcançou-se um aumento na quantidade de bebês amamentados no início de 1980.[15] O estudo japonês anteriormente citado descobriu que amamentar em livre-demanda leva o bebê a receber mais leite materno no terceiro e quinto dias de vida [12]

Mesmo quando amamentar com horários era a norma, pesquisadores perceberam a ligação direta entre o número de mamadas e a produção de leite da mãe. De volta a 1961, um artigo foi publicado com dados a respeito de como uma quantidade maior de mamadas durante o dia resultava em um aumento paralelo da produção de leite da mulher, apesar de demorar 48 horas para se notar esse aumento. [16] E nenhum desses sequer chega a mencionar o caso do bebê estar passando por um pico de crescimento, que requer um aumento na alimentação para que seus corpos possam crescer adequadamente.

De forma geral, as pesquisas foram a respeito da grande quantidade de problemas na amamentação em culturas industrializadas e desenvolvidas, e descobriu-se que o denominador comum é que nós promovemos o que um pesquisador chamou de padrões de amamentação não-biológicos. A imposição de horários para as mamadas e a redução da alimentação durante a noite não combina com o que a espécie humana foi programada biologicamente para necessitar, então não é de se estranhar que a produção de leite das mulheres sofra com os resultados disso. [17] Outra pesquisa a respeito de amamentação concluiu que muitos dos problemas que as mulheres enfrentam nas nações desenvolvidas, têm origem nas regras arbitrárias às quais a amamentação é submetida, como regular horários de mamadas. Os autores desse estudo argumentam que pesquisas mostram que amamentar funciona melhor quando regras não são impostas. [18] Nessa mesma linha, outro estudo descobriu que a habilidade de uma mãe para ser flexível com a amamentação e assim alimentar quando o bebê precisa – em livre-demanda, e não com horários – estava relacionada com o sucesso da amamentação, tanto a curto quanto a longo prazo.[19]

Em suma, amamentar com horários marcados saiu de prática por uma razão – esse ato pode fazer mal ao bebê e foi consistentemente associado a problemas na amamentação, algo que sabemos ser um problema nas sociedades industrializadas. O único argumento que lhes resta é a comodidade para a mãe, mas se ela acabar não podendo mais amamentar por causa de tal prática, não foi cômodo de verdade, não é mesmo?

Conclusões 

Não há nada de errado com uma rotina geral. Ter uma rotina para o sono noturno na qual você dá banho e lê para o seu filho antes de alimentá-lo para dormir é inofensivo. Saber como seu dia provavelmente vai transcorrer não causa mal. Mas quando os pais começam a tentar a ditar o que vai acontecer durante o dia baseando-se em horários, sem se importar se foi "guiado pelo bebê" ou inventado por uma terceira pessoa, nós começamos a ver problemas e isso não deveria surpreender – bebês não são compromissos ou encontros, eles são pessoas. Especialmente durante os primeiros meses o bebê está em mudanças constantes, e com isso suas necessidades também vão mudando. 


Tentar forçar o seu bebê a alimentar-se ou dormir em horários específicos basicamente ignora suas diferenças individuais, uma vez que dois bebês não são iguais. Naturalmente acabamos seguindo uma rotina, então por que motivo alguém deveria sentir a necessidade de "criar" uma? Por acaso isso não tira a graça do tempo que você passa com seu recém-nascido? Por que não encorajar os pais a escutar seu bebê a fim de descobrir um pouco mais a respeito daquela pessoa que trouxeram ao mundo?


Estou quase chegando ao final de nossa série aqui, mas tenho ainda mais uma lição para vocês que irá abordar a ideia de um útero externo e como ele facilita o desenvolvimento. Como vários de vocês parecem escrever como se o bebê fosse um adulto formado que precisa de regras e regulamentos, vocês precisam de alguma informação sobre a biologia por trás do desenvolvimento das crianças.
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